Marcelo Batista*
Já faz um ano que estamos juntos nessa nova fase. Nunca imaginei que seria tão rápido. Hoje estamos distantes. Sinto falta do papel que ficava entre nós, do cheiro da tinta na impressão, do restinho de borracha que se espalhava pelas páginas. Sinto falta de tanta coisa. Faz falta também a folha mais enrugada do aluno sua demais nas mãos, assim como aquele mais estabanado ou ansioso que consegue, sabe-se lá como, desgrampear todas as suas páginas. Que covardia! Mas não tem jeito, agora tem que ser assim. Desde junho do ano passado entramos nessa nova fase.
Nunca imaginei que teria esse contato tão direto com você pelo computador. Quando, em junho do ano passado, começamos essa relação, nunca imaginei que ficaríamos tanto tempo juntos. Tantas horas agarradinhos quase todo mês: abro o sistema e vocês estão lá, bonitinhas, em ordem alfabética, esperando o nosso contato imediato para a magia acontecer e em um mesmo link, divididas em turmas, sem o peso para carregar, sem aquele volume pra lá e pra cá o dia inteiro, mas também sem a gotinha de café, sem o cheiro e sem todo o afeto, mesmo sem intenção, que escorre na sutileza das folhas.
Mesmo com todo o lado positivo, muitos desafios estão entre nós. Alguns mandam suas fotos de lado e eu, ansioso para te ver de pertinho, sou obrigado a virar o computador ou inclinar a minha cabeça de lado para te ver melhor. Suas fotos muitas vezes são mal tiradas, distantes, com a resolução muito ruim ou em um ângulo muito ruim. Não consigo ficar nem chateado quando temos no meio da sua foto um dedo, um pijama, uma perna ou qualquer outra parte de um corpo que segura você nos braços. Não fico chateado nem mesmo quando você vem com outras iguaizinhas, idênticas às outras 10, 20 ou 30. Você é única. Mas mesmo assim gosto muito de você, do jeito que você é.
Ao longo do último ano tivemos um grande aprendizado. Vocês aprenderam a me levar mais a sério, aprenderam a entender melhor que essa distância ainda pode durar por mais tempo, mas a nova realidade é assim, o isolamento social faz dessas coisas. Sinto que de uma maneira geral há um maior envolvimento e mais compreensão entre nós e prefiro que, por enquanto, o processo continue do mesmo jeito.
Mesmo assim não posso dizer que sinto falta de você de pertinho. Agora tenho a possibilidade de mandar uma mensagem parecida para muitas de vocês, confesso, e isso poupa um pouco o meu tempo. A maior velocidade do trabalho e o maior conforto das mãos também é algo que ajuda bastante e não posso negar que isso me deixa muito feliz. Mas entre gastar a caneta vermelha e os olhos, sou do time dos olhos, da velocidade de correção e da praticidade do distanciamento. Mas se pudesse escolher, eu pediria: não deixa de anexar o cheiro do seu lápis, o restinho da sua borracha e principalmente muito de quem está rabiscando você: disso eu não quero sentir falta por mais tempo e não vou me esquecer.