Marcelo Batista*
No fim de abril, recebi, via Instagram, uma mensagem por direct com um nome em russo. Inicialmente imaginei que pudesse ser mais uma das mensagens enviadas em massa, por robôs, ou até o contato de algum desconhecido. Na dúvida, resolvi clicar e ver do que se tratava aquela DM inusitada. Aparentemente digitada por um tradutor eletrônico, a usuária dizia que era chefe de departamento do desenvolvimento escolar de uma plataforma russa, que estava entre as maiores escolas on-line do país.
Na dúvida, resolvi responder para saber do que se tratava aquele contato. Depois de uma conversa breve pelo Instagram, consegui marcar uma reunião via Zoom, no único horário em comum que tínhamos: domingo, na parte da tarde. Ainda na dúvida sobre a possível seriedade do contato resolvi participar e no momento em que normalmente prepararia as minhas aulas da semana participei de uma reunião.
Mediada por um simpático tradutor angolano, tratávamos sobre a possibilidade de um curso de português, voltado para o Enem. Guiado muito mais pela curiosidade, resolvi prosseguir na conversa para saber quais seriam os reais interesses do grupo educacional. Solicitaram que eu enviasse um arquivo com um projeto de aula, que seria convertido para a plataforma educacional deles e que eu deveria, posteriormente, gravar uma aula-piloto para a divulgação do projeto, que seria voltado para a prova aqui no Brasil. Aproveitei para apresentar e enviar o contato de outros colegas professores, para que eles pudessem completar o quadro das disciplinas necessárias para o Enem. Um professor nunca anda só.
Enviei o meu arquivo no prazo combinado e recebi uma nova resposta: marcaram uma nova reunião, que aconteceu agora há pouco, sem muito sucesso. O tradutor angolano não pode comparecer e conversei, usando meu inglês rudimentar, com a russa, também de inglês contestável. No fim da conversa, entre risadas e rasteiras linguísticas, decidimos prosseguir pelo WhatsApp. Se a língua permitir, talvez avançaremos mais algumas etapas dessa odisseia linguística.
A globalização revela possibilidades incríveis para os profissionais e até mesmo para as pessoas que trabalham somente com exames locais, como o Enem. Não sei se por curiosidade ou por interesse, continuo os meus contatos nessa experiência que, no mínimo, pode render boas histórias para esse tão inesperada trajetória profissional. E entre uma reunião e outra vou montando aulas, corrigindo e criando provas, me dividindo entre as mais de 50 aulas semanais. Mas as recompensas, ainda que invisíveis para alguns, continuam aparecendo. Lembra do meu aluno que tinha saído muito mal na prova e que fiquei preocupado pelo insucesso? Recuperou. Lembra do Marcelinho, meu bebezinho, já citado (desde a gestação) aqui na coluna? Fez um aninho no domingo. E ele já vai engatinhando, como eu - metaforicamente nessa vida de surpresas. Tudo é tão rápido! E no meio dessa loucura em sala de aula a vida vai acontecendo: no extraclasse.