Dr. Célio FroisDr. Célio Frois é cardiologista, professor e titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia

A indignação não pode ser 'uma mosca sem asas'

14/04/2023 às 15:51.
Atualizado em 14/04/2023 às 15:52

Posso ser médico e professor, mas antes disso, sou um cidadão de formação familiar humanizada e cristã. Não posso olhar para quatro tragédias, em quinze dias (Blumenau, Manaus, Santa Tereza de Goiás e São Paulo), com vidas feridas ou interrompidas de modo selvagem, entre crianças e professores, e achar que estamos em tempos normais. Não, não estamos.

Vejam o absurdo: não bastassem os atos de violência, uma professora da creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), por exemplo, sofreu um infarto quatro dias após o ataque que matou quatro crianças na escola. A docente, identificada como Alaide, de 60 anos, precisou passar por uma intervenção cardíaca. De acordo com nota divulgada pela creche nas redes sociais, ela procurou atendimento médico na noite após o atentado, apresentando quadro de síndrome coronariana aguda. Cerca de 70 horas depois, infartou. Alaide sofreu estresse pós-traumático, infelizmente, o que comprometeu o seu sistema cardiovascular.

A discussão sobre o tema é ampla, complexa e desejo fazer minha voz ser ativa em cada espaço de caráter decisório (audiências, comissões, convocações de autoridades e quaisquer reuniões técnicas), até porque este cidadão inquieto é também professor e tem a dignidade mínima da empatia, que é obrigação de todos. Mas, por ora, quero apenas deixar claro o que entendo ser o caminho imediato de amenização da patologia (doença) social de desequilíbrio já caracterizado como crônico e sistêmico.

Instâncias federais, estaduais e municipais cuidam de nossas crianças, seja no envio de verba, na manutenção e instalações de estruturas e no âmbito que remunera - estas três frentes de autoridades e seus assessores diretos devem se sentar, imediatamente, com técnicos e agentes públicos que lideram as gestões municipais, mineiras e nacionais da Educação, Segurança, Mobilidade Urbana, Infraestrutura e Logística para, em um Gabinete Institucional de Crise, “estancarem a hemorragia”.

Acrescento que é preciso, em nível municipal, ofertar um Programa de Preservação à Saúde Educacional, em que psicólogos estejam à disposição, com um quadro de palestras e sessões introdutórias individuais de prevenção, bem como disponibilidade para atendimento a alunos, professores e demais profissionais, permanentemente e em caráter prioritário, no que diz respeito à rede de Educação coberta pela Prefeitura de Belo Horizonte, e o Governo de Minas acertaria ao seguir o mesmo caminho para a categoria estadual.

Foram listadas 22 ocorrências desde 2002, sendo que em uma ocasião o ataque envolveu duas escolas. Apenas entre 2018 e 2022, dez foram registradas e, neste ano, em 15 dias, quatro. Ou reúnem-se agora, ou contaremos mais corpos de crianças e docentes no curto prazo, o que nenhum de nós, em absoluto, desejamos. Como médico, vidas perdidas, especialmente por gestão pública irresponsável de todos os lados, me indigna de maneira inesgotável. Cobrarei que façam a parte que estes citados devem cumprir: trabalhar direito.

*Dr. Célio Frois é cardiologista, professor, membro titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia e vereador por Belo Horizonte.

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