Carta branca para Sampaoli

05/03/2020 às 17:35.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:51
 (IVAN STORTI/SANTOS/DIVULGAÇÃO)

(IVAN STORTI/SANTOS/DIVULGAÇÃO)

IVAN STORTI/SANTOS/DIVULGAÇÃO / N/A

  Sou fã do cara, confesso. O que me anima a acompanhar o Atlético em 2020 é Jorge Sampaoli. A passagem dele pelo Galo pode não resultar em muita coisa, em vista do alto salário que, alguém já me sussurrou, poderia ser destinado à contratação de jogadores de peso; mas que vai mudar o sorumbático cenário alvinegro, ah, isso vai. Sampaoli já chega com gerente de futebol escolhido por ele, promessa de trabalhar 12 horas por dia e exigência de um elenco mais encorpado para poder brigar por boas colocações no Campeonato Brasileiro, a única competição que nos resta além do estadual. Quem hoje seria capaz de impor tantas condições? Só Jesus.

Para mim, é Jesus no céu, com um Flamengo dos sonhos e caminhão de dinheiro, e Sampaoli na terra, fazendo serviço de pedreiro para construir algo que pare de pé no Atlético. E acho que vai tirar leite de pedra – expressão originada do esforço de manter o gado vivo em meio à seca. No nosso caso,  dois anos de jejum e vergonha.

O último “louco” que apareceu no Galo foi Cuca, que chegou em 2011 com fama de amarrar coração de boi ou algo parecido na porta do vestiário. Deu no que deu, culminando com o título da Libertadores de 2013. Depois, não sei porquê, os doidos varridos foram impedidos de entrar no CT de Vespasiano.

Foi Aristóteles, lá em trezentos anos e qualquer coisa antes de Cristo, quem disse que “não existe um grande gênio sem uma pitada de loucura”. Não por acaso um dos alunos do filósofo grego foi o rei Alexandre, o Grande. Este virou uma espécie de super-humano, criando um dos maiores impérios da história.

A comparação com Sampaoli, o Pequeno (mero 1,67m de altura), não é despropositada. Como o técnico argentino, Alexandre exibia táticas ousadas e, a partir de constantes treinamentos, criou um Exército que ficou caracterizado por sua força, velocidade e manobrabilidade. Bom comandante, estabeleceu formações imbatíveis.

É o  que todo atleticano quer. Uma máquina que vá com tudo para cima, como em 2013 e 2014, fazendo até os mais experientes recuarem diante de tamanho ímpeto. O Atlético precisa querer vencer, ganhar como único resultado possível. É o que mais sentimos falta na equipe que começou 2020.

Na reunião de pais da escola da minha filha, outro dia, o diretor citou o Padre Fábio de Melo e a filosofia do “mais ou menos”, hoje muito usual. Fui lá conferir o vídeo no YouTube e percebi que nosso Atlético é justamente esse: o do mais ou menos. Não é um Galo que nos faz orgulhar, só dando para o gasto.

A gente não quer mais um time “mais ou menos”, um campeonato “mais ou menos”, um jogador “mais ou menos” – alguns bem menos do que mais, convenhamos – ou um técnico “mais ou menos”. Não dá para dizer para a torcida “quase” acreditar. Não dá para fingir que temos uma equipe, como essa que estava jogando.

Por isso, dirigentes,  carta branca para Sampaoli. Podemos não chegar aos títulos, mas teremos sonhado. Em tempos em que até o Coringa se tornou um herói, alardeando a opressão da sociedade sobre os excluídos, a loucura se faz necessária. Como já disse Clarice Lispector, “engulo a loucura porque ela me alucina calmamente”. 

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