Bebê reborn: entre a revolta e a (des)informação?!

Publicado em 29/05/2025 às 06:00.

Vinícius da Costa Gomes*

“Extra, extra, crianças são substituídas por bebês reborn!”. Todos em pânico! O som de diversas mensagens chegando no seu celular passa a ficar incessante e interminável. Você já sente aquela sensação “boa”: “Hoje eu vou discutir com a minha tia no grupo da família!” ou “Como farei para não perder mais um amigo nos debates nas redes?!” ou até mesmo “Como arranjo outra namorada se eu brigar com meus sogros?!”. Seus problemas acabam hoje! 

“Prof., você é coach/ influencer de autoajuda agora?!”. Não, de forma alguma. Permaneço na constante busca de lecionar em terras brasileiras. Então, “bora lá!”

Não irei debater o fim dos tempos ou os aspectos filosóficos do tema, mas sim alguns temas atuais e cruciais no debate atual: fake news (desinformação), pós-verdade e liberdade de expressão.

Àqueles que não conhecem nada do tema, bebê reborn (ou em bom português bebê “renascido”) é um(a) boneco(a) que tem uma aparência real. “Prof. eu brincava com bonecos(as) na infância, qual a polêmica?!”. Bom, uma influencer no interior de Minas Gerais viralizou ao divulgar um vídeo em que levava o seu bebê reborn para ser atendido em um hospital.

Uma vez que o vídeo se espalhou, foi a vez de um deputado apresentar um projeto de lei proibindo que os hospitais atendessem os bebês reborn sob pena de multa à “mãe”. A justificativa do parlamentar seria evitar o uso indevido dos serviços públicos diante dos diversos casos de pedidos de auxílio nos serviços de emergência. A sociedade aplaude de pé a iniciativa contra a “loucura da modernidade” e o prof aqui consegue uma bela oportunidade de te explicar esses temas (ou tentar?!). Essa polêmica é uma ótima chance de analisar como uma fake news em um cenário de pós-verdade pode possibilitar uma tomada de decisão equivocada.

Primeiro: não há diversos casos de atendimento de bebês reborn onerando os cofres do Estado. Inicialmente, a própria secretaria de saúde do Estado afirmou que nenhum reborn foi atendido na rede hospitalar. Além disso, uma análise simples, sem dados científicos (“Ufa! Alívio geral da nação!”) é suficiente para resolver tal “dilema”. O atendimento em hospitais exige uma identificação do paciente. Por óbvio, as mães têm que identificar seus filhos. 

Importante ainda lembrar que nenhum profissional da saúde atende algo diferente de um ser humano. Aliás, qualquer cidadão que já foi a um hospital sabe que haverá essa identificação e no mínimo uma triagem antes mesmo do paciente chegar ao médico. O argumento principal (e cruel) é que na verdade o nosso problema é ter o atendimento rápido e adequado nos hospitais públicos. Logo, realmente não há que se falar em atendimento de reborns onerando os cofres públicos. Conclui-se que temos a famosa fake news ou, em bom português, informação falsa.

Nesse ponto entra a tal da “pós-verdade”. O fenômeno (que não é novo, mas está em evidência) ocorre quando as pessoas preferem aceitar crenças e apelos emocionais em detrimento de fatos objetivos. No caso, as diversas mensagens e debates nas redes sociais refletem uma tomada de decisão das pessoas que contrariam a óbvia informação falsa relacionada ao atendimento de reborn. O bebê reborn mexe com diversos assuntos caros à sociedade brasileira. Os cidadãos lembram de polêmicas relacionadas à possibilidade ou não do aborto, ao sentimento de que haverá um domínio do artificial em detrimento do “real” e até mesmo questões relacionadas a um possível machismo estrutural se relacionam ao tema (dentre outras, claro). 

Tomado por esse sentimento de revolta e/ou desamparo, o indivíduo ignora a lógica e apoia aquela crença que melhor “solucione” os seus medos. O projeto de lei aproveita exatamente desse fenômeno. O parlamentar dá a resposta a sociedade: “Aqui não! Não vamos deixar essa aberração acabar com a nossa nação!”. Ou seja, ele ataca diretamente o sentimento, a crença e o apelo emocional do indivíduo que está revoltado com a informação (desinformação, na verdade). 

O ciclo está completo! (ou circo?!). O pior é que ele se retroalimenta. A cada fake news, surge uma onda de apoio fundamentada na pós-verdade que causa nova desinformação, e o ciclo continua. Há uma espécie de apoio às informações falsas, já que, de forma prática, vale a pena mentir se o seu objetivo é viralizar. Agora, quando a desinformação é utilizada para a tomada de decisão do poder público, temos algo temerário. Logo, precisamos sim debater o tema. Não um debate “de opiniões” polarizadas, mas sim um debate com base em dados, científico! 

“Há solução, prof?”. Claro, tanto que estou aqui tentando traduzir em poucos caracteres um tema complexo. Inclusive, como professor, já deixo um tema que traz solução a esse problema: Legística! “Explica prof!”. Depois - afinal, todo bom cientista deixa mais dúvidas que respostas…

* Mestre e especialista em Direito. Professor da Nova Faculdade, Promove, Kennedy, Universidade Santa Úrsula e Faculdade Universo. Assessor da Ouvidoria de Prevenção e Combate à Corrupção da Ouvidoria Geral do Estado. Professor online nas horas vagas: @profviniciusgomes (instagram, YouTube, Facebook, TikTok, Bluesky e X). Além disso, aos oabeiros, me acompanhem porque “Te ajudo a fazer 70% na OAB estudando 50% menos!”

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