Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Bolsonaro começa a viver inferno astral

Publicado em 30/06/2022 às 06:00.

Não tem sido fácil a vida do presidente Jair Bolsonaro. Mal começou a funcionar – na verdade nem começou ainda – a Comissão Parlamentar de Inquérito que tem como acusado o ex-ministro Milton Ribeiro, da Educação, e já começa o escândalo do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, acusado por cinco funcionárias da CEF de lhes bolinar, isoladamente ou não, causando a elas grande constrangimento. O Ministério Público Federal está apurando esse novo escândalo, junto como Tribunal de Contas da União, enquanto o governo começa a pagar aos que assinaram a lista de 31 nomes – na verdade a lista precisaria ter apenas 29 nomes – necessários para abertura da CPI, com verbas do orçamento secreto, calculadas em R$ 3,2 bilhões. Por enquanto.

Nesse ínterim, o governo tenta desmontar a CPI, extravagante para o Executivo, sobretudo nesse momento em que faltam pouco mais de 100 dias para as eleições, enquanto a oposição, liderada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), tenta reativar o formato da CPI da Covid em que o Palácio do Planalto foi o principal alvo das investigações.
Ontem de manhã, já tornadas públicas as denúncias de assédio sexual do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, sob fogo cerrado de seus companheiros de governo, ele compareceu a uma programação interna da CEF na companhia da mulher, Manuella Pinheiro Guimarães, para frisar que se orgulha de uma “vida inteira pautada pela ética”. Mas em nenhum momento se referiu às funcionárias da Caixa que o acusam de assédio sexual.

Ao contrário, elas se mantêm firmes nas denúncias, dizendo que tiveram até mesmo que trocar de uniformes para evitar o constrangimento. E o pior, ao que se sabe, é que a alta direção da Caixa tinha conhecimento do procedimento supostamente irregular, quando não criminoso, do presidente Pedro Guimarães. Daí o álibi que montou ontem ao comparecer à reunião do Plano Safra em companhia da esposa.

Pedro Guimarães é talvez o mais próximo auxiliar do presidente Bolsonaro, ao lado de quem aparece sempre nas lives das quintas-feiras. Contudo, a pressão para que o governo se livre dele, por uma questão político-eleitoral, é enorme. Ontem mesmo surgiu já um nome capaz de substituir o até então insubstituível Pedro Guimarães. A escolhida seria Daniella Marques, considerada o “braço direito” de Paulo Guedes. Ela comanda desde fevereiro a secretaria de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia. A expectativa é que Pedro Guimarães possa deixar a presidência da Caixa ainda nesta quarta-feira, a despeito dos trâmites institucionais. O vice-presidente da República também pede a apuração imediata das denúncias contra Pedro Guimarães.

Mas nada disso é estranho num governo que é tocado aos ventos. E o maior exemplo vem de cima. Ao ser diagnosticado por um capitão-médico, da mesma patente dele, como portador do coronavírus, o presidente pediu ao médico que lhe desse cloroquina. O capitão-médico se recusou a prescrever o remédio e foi ameaçado de ser transferido para uma região de fronteira. Mas o presidente, não se sabe como, tomou sua cloroquina.
Essas questões ligadas ao ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e agora ao presidente da Caixa – o nome já está escolhido; ontem o presidente da Caixa renunciou – Pedro Guimarães tem feito o presidente da República  mudar o seu discurso até então moralista. 

Ontem, ele já admitia que a corrupção não é endêmica no seu governo, mas que se tratam de casos isolados, uma adaptação genérica que não deixa de ser comprometedora a pouco mais de 100 dias das eleições. Ontem, num evento da CNI, Bolsonaro discursou por mais de 25 minutos e em nenhum momento tocou no caso de Milton Ribeiro ou nas acusações contra o presidente da Caixa Econômica Federal.

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