Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Cultura do ódio ultrapassa os limites em Minas

Publicado em 13/08/2022 às 06:00.

Essa cultura do ódio está além da conta. Ainda ontem o presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus, chamou a atenção da sociedade mineira porque duas deputadas, Beatriz Cerqueira e Andréia de Jesus, além da vereadora Duda Salabert, foram ameaçadas por alguém do município de Mário Campos.

Isso já passou da conta. Primeiro foi o ex-presidente Lula, em Uberlândia, depois no centro do Rio de Janeiro. E também quando a caravana do mesmo Lula foi vítima de disparos de armas de fogo, no sul do país, sem que até hoje ninguém tenha sido investigado e muito menos punido. Isso sem falar na morte de Marcelo Arruda, assassinado quando iria comemorar 50 anos e cuja decoração da festa seria uma elegia ao ex-presidente Lula. Neste Dia dos Pais, os filhos de Marcelo não terão o que comemorar. Ainda que a Justiça do Paraná tenha voltado atrás e mandado de volta para a prisão o assassino Jorge Guaranho.

Mas ontem, a Genial/Quaest divulgou mais uma de suas esperadas pesquisas de opinião pública, em Minas. E ao que parece, acendeu-se uma luz amarela na campanha do ex-presidente Lula. A pesquisa mostra que diminui a diferença, no segundo maior colégio eleitoral do país, entre o ex-presidente, que continua liderando, em relação ao presidente Bolsonaro: a diferença em favor de Lula era de 18 pontos há dois meses e caiu nove pontos. Lula tem, segundo a Quaest, 42 pontos e Jair Bolsonaro, 33. Em relação à ultima pesquisa, Lula caiu quatro pontos (de 46% para 42%), enquanto Bolsonaro cresceu cinco pontos percentuais (de 28 para 33 pontos percentuais). Ciro Gomes patina nos 6% e Simone Tebet, do MDB, tem um ponto percentual. Brancos e nulos são 7% e indecisos, 9%. 

Na pesquisa espontânea do cenário nacional (quando os nomes não são apresentados aos entrevistados), Lula caiu de 36% para 31% e Bolsonaro foi de 22% para 26%. E a rejeição ao governo Bolsonaro também diminuiu de 46%, em julho, para 39%. E avaliação positiva também foi de 29% para 34%. É evidente que parte desse crescimento foi consequência do pacote de bondades distribuído pelo governo, quer na queda dos combustíveis ou na aprovação do orçamento secreto pelo Congresso, em que mais de R$ 100 bilhões são repassados para o centrão sem que se saiba para quais deputados ou senadores são repassados – daí o nome de orçamento secreto, na verdade o chamado orçamento do relator, que distribuiu as emendas parlamentares de acordo com o centrão.

Mas, de qualquer forma, a diferença entre Lula e Bolsonaro vem sendo reduzida nos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas e Rio. Daí porque se diz que deve ter acendido um sinal amarelo na campanha do ex-presidente Lula. Para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira – um antigo lulista que se tornou aliado de Bolsonaro, de tal forma que o ex-lulista diz que o presidente candidato à reeleição deve subir em todos os Estados, à exceção do Nordeste, onde Lula parece imbatível – a mudança está na percepção do brasileiro ao pagamento do Auxílio Brasil e à redução no preço dos combustíveis, uma jogada eleitoreira que os tribunais fizeram vista grossa porque aprovada pelo Congresso Nacional.

Fenômeno semelhante ocorre em Minas, onde o ex-prefeito Alexandre Kalil perde para o governador Romeu Zema, de 46% para 24%. E olha que nessa semana Zema fez algo parecido com folclórico Odorico Paraguaçu ao demitir sumariamente os 23 funcionários do gabinete de seu vice Paulo Brant, que resolveu ser vice agora de Marcus Pestana, do PSDB, partido a que pertence também o vice de Zema – vice que foi reconhecido pela justiça eleitoral, como Zema, e empossado na Assembleia Legislativa. Já houve casos, em Minas, de rompimento do governador com o seu vice, sem que, no entanto, houvesse essa vingança que não engrandece o governador. Itamar rompeu com Newton Cardoso e Fernando Pimentel rompeu com Antônio Andrade. Mas ninguém foi demitido em razão desses desentendimentos, até porque, como ensinava o ex-governador Hélio Garcia, “aqui brigam as ideias, os homens públicos, não”.

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