Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Lula avança com plano de paz para acabar com a guerra na Ucrânia, sem se envolver no conflito

Publicado em 04/03/2023 às 06:00.

Já não há mais dúvida sobre a intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se encontrar com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski. Ontem os dois voltaram a conversar por vídeo e Lula recebeu o convite de Zelenski para visitar a Ucrânia invadida pelas tropas de Vladimir Putin, com quem, aliás, se encontrou o ex-presidente Jair Bolsonaro antes de concluir o governo.

Na conversa entre Lula e Zelenski o presidente brasileiro prometeu que visitaria a Ucrânia, em “momento mais oportuno”, sem, no entanto, descartar o convite.  O que se passa na cabeça de Lula é a formação de uma frente latino-americana, possivelmente com o apoio norte-americano, além da União Europeia, para um esforço de paz conjunto em favor da paz. “A guerra não interessa a ninguém”, teria dito Lula a Zelenzki. “Tive uma reunião agora com o presidente da Ucrânia e reafirmei o desejo do Brasil de conversar com outros países e de participar de qualquer iniciativa em torno da construção da paz e do diálogo”.

Nas redes sociais, Zelenski disse que ambos os líderes destacaram na conversa a importância do princípio da soberania e os esforços diplomáticos pela paz e afirmou ter agradecido ao brasileiro o voto na ONU em favor da resolução que condena as “nefastas consequências humanitárias” da invasão russa, exige a retirada das tropas de Moscou do país e se compromete com a promoção da paz na região.

O Brasil não quer ter qualquer participação direta ou indireta no conflito, recusando-se, por exemplo, a fornecer munição ou armas para os dois lados em guerra. A linha diplomática adotada por Lula diverge da praticada por Jair Bolsonaro que chegou a visitar Putin na alegação de que a importância de fertilizantes russos seria vital para o agronegócio brasileiro. De tudo restou, ao final, que o chanceler russo Serguei Lavrov deve visitar o Brasil em abril.

A entrada em cena do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é apenas porque a guerra não interessa a ninguém. Lula quer, na verdade, se relacionar com os países de um modo geral, daí o fato de ele ir à África, assim como também como recrimina o fato de os Estados Unidos e a União Europeia ficarem colocando dinheiro todo dia nessa guerra, ao passo que o líder chinês Xi Jinping mostra cara de paisagem para o conflito, quando poderia fazer algum gesto concreto em favor da paz.

“Possivelmente pedir para a Rússia sair da Crimeia (anexada por Moscou em 2014) talvez seja impossível, mas pode ter outras coisas que você pode pedir, pode conversar”, disse Lula.

O que não se entende é porque o presidente da República não demite seu ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que já aprontou poucas e boas no governo Bolsonaro e agora arranjou avião da FAB e recebeu diárias para participar de um leilão de cavalos em São Paulo. Pego em flagrante, diz que vai devolver as diárias. Mas quanto ao avião da FAB, silêncio absoluto. Lula não tem porque manter Juscelino Filho no seu ministério, a menos que queira manter o arco partidário que sustenta seu governo. Ainda ontem a presidente do PT, Gleisi Hoffmann defendeu o afastamento de Juscelino do governo até para “evitar o constrangimento do governo”.

Mas assim como bate com o pau, Gleisi rebate com o cavaco: assim como pediu o afastamento de Juscelino, ela quer agora que o presidente do Banco Central, Campos Neto, peça para sair ou seja demitido. Pode até ter razão quando diz que o presidente do BC não tem nada a ver com o “com o projeto que ganhou a eleição”. De fato, não tem. Mas Lula precisa ir com cuidado, porque o andor é de barro.

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