Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

O Congresso e o Supremo numa autêntica sinuca de bico

Publicado em 03/05/2022 às 06:30.

Foi um Dia do Trabalhador diferente, o deste ano. A começar pela polarização entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro – que aliás botou as suas tropas nas ruas, ao que consta, pela primeira vez no Dia do Trabalhador. Em anos anteriores, o presidente se satisfazia em fazer as motociatas, como, aliás, fez em Uberaba, na Expozebu, para não perder o costume.

Quem levou mais gente ou menos gente às ruas no domingo? 
Isso é perda de tempo.

O que importa, nesse instante, é entender por que o presidente Jair Bolsonaro está se aproximando do ex-presidente Lula, mesmo que se saiba que, ao desistir de uma candidatura à Presidência da República, o ex-juiz Sérgio Moro não deixou de inflar a candidatura de Bolsonaro. Só aí ele ganhou no mínimo seis pontos, fora os dois para lá e dois para cá com que os institutos garantem a sua margem de erro.

Mas nem isso é capaz de superar o encontro marcado para hoje entre o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, para discutir a decisão do STF que condenou o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) a mais de oito anos de prisão, além de condená-lo a pagar uma multa de R$ 100 mil e à perda do mandato, acima de tudo, em regime fechado.

Há uma clara divisão entre o que decidiu o Supremo e a reação do Legislativo, para quem cabe apenas ao Congresso a perda do mandato de um parlamentar.

Não será uma conversa fácil.

Primeiro porque a condenação do deputado foi por dez votos a um – quem o absolveu foi o ministro Nunes Marques, cabendo ao ministro André Mendonça reconhecer a culpa do parlamentar, mas dar a ele uma pena mais branda, com o destaque de que tanto Nunes Marques como Mendonça tenham sido indicados pelo presidente Jair Bolsonaro, que, aliás, deu a “graça” ao parlamentar, ou seja, o indultou menos de 24 horas após a condenação.

E aí está o X do problema.

No Dia do Trabalho o presidente Jair Bolsonaro participou de manifestações em Brasília, o que foi considerado por Rodrigo Pacheco como uma atitude antidemocrática, até porque nessa manifestação se pedia, entre outras pérolas, o fechamento do Congresso e a volta do AI-5.

Essa a importância dessa reunião marcada para a manhã desta terça-feira.

Aí não se vai tratar de quem levou mais gente ou menos gente na manifestação do Dia do Trabalho, mas de como o Supremo e o próprio Congresso vão sair dessa sinuca em que se meteram.
O primeiro por condenar um parlamentar e o segundo porque defende que só quem pode decretar a perda do mandato de um parlamentar é o próprio parlamento. E aí?

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