Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.
Artigo de Opinião

São graves as acusações que envolvem o ex-ministro Milton Ribeiro e que podem alcançar o presidente

Carlos Lindenberg
25/06/2022 às 06:00.
Atualizado em 25/06/2022 às 11:33

É da maior gravidade a acusação feita ontem pelo delegado da Polícia Federal Bruno Calandrini de que houve “decisão superior” para que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro não fosse transferido, no mesmo dia, quarta-feira, para Brasília, conforme decisão do juiz da 15ª Vara Criminal da Justiça Federal de Brasília, Ricardo Borelli.

Nessa operação, o ex-ministro da Educação foi preso junto com quatro pastores, evangélicos como ele, que pertenceriam a uma quadrilha que determinava ao ministro a quem ele deveria liberar recursos do Fundo Nacional da Educação, em troca de propina. Houve pastor que pediu um quilo de ouro para fazer a intermediação com o então ministro da Educação, além de uma parte em dinheiro vivo.

No dia da prisão do ex-ministro e dos pastores, o presidente Jair Bolsonaro disse numa rádio local, sem contestação, que a prisão de Milton Ribeiro era uma prova de que ele, o presidente, não interferia nas ações da Polícia Federal. Mas não foi bem isso o que relatou o delegado Bruno Calandrini, numa mensagem interna aos seus colegas, quando chegou a dizer que numa situação dessas ele não tinha mais condições de permanecer à frente das investigações.

Como Milton Ribeiro não foi enviado a Brasília, “por ordem superior”, e quem tomou essa decisão foi o desembargador Ney Belo, da primeira região, que está numa lista para o Superior Tribunal de Justiça, e ainda segundo o delegado Bruno Calandrini, o ex-ministro foi tratado com “honrarias” que não existem na lei.

A suposição é de que o próprio presidente Bolsonaro tenha interferido no caso, ele ou o diretor da Polícia Federal, porque só uma decisão superior, como disse o delegado Bruno Calandrini, que renunciou às investigações, poderia fazer com que o ex-ministro Milton Ribeiro não fosse levado a Brasília, como determinado pelo juiz federal Ricardo Borelli.

É de lembrar também que logo após a prisão de Milton Ribeiro o presidente Jair Bolsonaro reuniu-se com seu staff político para tomar decisões, já que a prisão do seu ex-ministro começava a tisnar a campanha do presidente da República, dada a gravidade da situação – um ex-ministro preso não é para qualquer governo, muito menos a 100 dias da eleição.

Quem vai relatar as investigações no Supremo Tribunal Federal é a ministra Carmen Lúcia, já que há indícios de que teria havido sim interferência federal, como relatou o delegado Bruno Calandrini num comunicado interno aos seus colegas. A propósito, ao enviar o caso para o Supremo Tribunal Federal, o juiz não citou, claro, que o  presidente Bolsonaro havia dito “que seria capaz de colocar a cara no fogo” pelo seu ex-ministro, deixando a cargo do presidente a expressão, dita na live das quintas-feiras, que ele simplesmente “exagerou”.

Mas ao enviar o caso para  o STF, o magistrado proferiu sua decisão após o Ministério Público Federal apontar “indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do presidente da República Jair Messias Bolsonaro nas investigações”.

E o presidente foi tratar de assuntos não menos palatáveis, como o aumento dos combustíveis, que chega a um acumulado de 51% só neste ano. Mas o pior não acabaria aí: o ex-ministro Milton Ribeiro teria dito a alguém da família que “Bolsonaro me ligou e disse que vão fazer busca e apreensão”, num sinal claro de que realmente a situação, tanto do ministro como do próprio presidente da República, é grave.

Não menos grave, porém, é a informação do senador Randolfe Rodrigues (Rede) de que já teria em mãos as 27 assinaturas para pedir a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, no Senado, a fim de apurar as supostas negociatas - não confundir com motociatas, tão na moda ultimamente - no Ministério da Educação, à época chefiado pelo ministro Milton Ribeiro, escolhido a dedo pelo próprio presidente.

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