Gestor de Futebol pela CBF Academy e pela Universidade do Futebol, pós-graduado em Direito Desportivo e Negócios no Esporte.

Como avaliar o trabalho de um treinador?

Publicado em 26/07/2022 às 06:00.

A insana dança das cadeiras que assola a troca de treinadores no futebol brasileiro é cada vez mais assustadora. Mais da metade dos clubes da série A já trocaram de treinador na temporada e, desde o começo do Campeonato Brasileiro, já alcançamos a marca de 12 demissões. A mais recente foi a de Turco Mohamed, do Atlético Mineiro, que deixou o clube com menos de seis meses de trabalho, mesmo tendo conquistado dois títulos e ocupando a terceira colocação do Brasileirão. Mas, afinal: como avaliar o trabalho de um treinador?

A maioria das pessoas que analisa o trabalho de um treinador não se preparou para ter a capacidade de julgar de forma justa. Tanto jornalistas (ou influenciadores digitais) quanto dirigentes sabem muito pouco sobre tudo o que circunda os afazeres de um treinador - que vão muito além de definir a escalação para o jogo. Além disso, dois dos principais KPIs de avaliação do treinador são de difícil visualização: (I) a liderança e gestão de pessoas do treinador e (II) a metodologia de treino. A imprensa, por óbvio, não tem acesso para acompanhar de perto e os dirigentes, em sua maioria, não possuem conhecimentos suficientes para analisarem estes dois indicadores-chave.

Antes de mais nada, KPIs (do inglês Key Performance Indicators) são Indicadores-Chave de desempenho definidos pela gestão para se realizar a medição da relação desempenho/performance de um determinado processo ou trabalho em andamento. Para esta coluna, vou me ater a abordar o segundo KPI descrito no texto: a metodologia de treino.

Entender qual a metodologia de treino adotada pelo treinador poderá auxiliar o gestor do clube a avaliar se há coerência entre as atividades de treino propostas e a ideia de jogo em operacionalização, obviamente confrontadas com todos os intervenientes deste processo de modelação, ou seja, contexto/cultura da equipe, características dos jogadores, posição na tabela, expectativa da torcida, entre outras circunstâncias.

O gestor deve avaliar continuamente a comissão técnica e estar presente nos treinos, participando, se possível, de todas as reuniões semanais de organização e preparação das sessões de treinamento. Só assim o gestor poderá ter uma ideia daquilo que foi desenhado previamente para cada atividade.

Claro que o produto final de tudo trabalhado no treino é o jogo, isto é, a manifestação final de toda tentativa de colocar “ordem na desordem do jogo”. Se o jogo não está bem, muito provavelmente algo também não está bem no treino. Entretanto, para se ter certeza disso é preciso saber avaliar.

Se o clube tiver convicção de que o treino está com os objetivos condizentes, conteúdos coerentes com a forma de jogar estabelecida e as características dos jogadores, bem provavelmente será questão de tempo para a consolidação de um jogar¹.

Vídeo, imagens e conversas podem e são ferramentas importantes na modelação da equipe, mas devem ser complementares. Nada substitui o treino e a exercitação daquilo que se quer colocar no jogo. E para se treinar com qualidade, é preciso saber selecionar corretamente os conteúdos que serão treinados na equipe.

Imaginem, em um exemplo grosseiro, uma peça de teatro que se prepara para apresentar um drama mas passa-se o tempo todo ensaiando uma tragédia. Qual será o resultado? A mesma situação, por analogia, fazemos a uma equipe de futebol, que deve se preparar de forma coerente e condizente com aquilo que quer apresentar.

¹Jogar: o jogar é composto pelas regularidades dos comportamentos que identificam uma equipe de futebol, ou seja, o tipo de futebol que determinada equipe apresenta. Por isto, escreverei sempre em itálico, de modo a diferenciar um jogar de um jogo genérico.

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