Não é novidade para ninguém o absoluto sucesso da escola portuguesa de treinadores. Um mapa realizado em 2018 já apontava a presença vitoriosa dos portugueses espalhada pelos quatro cantos do mundo. De lá pra cá, o sucesso foi ampliado, principalmente no Brasil, onde 522 anos após o descobrimento voltaram a desembarcar com tudo no país. Mas por que razão os treinadores portugueses estão de vento em popa?
Muitas razões podem ser elencadas, a começar pelo árduo trabalho de organização e capacitação efetuado há mais de 30 anos no país de Camões. Uma verdadeira união e integração, compromisso assumido, entre Federação, Clubes, Treinadores e Universidades em torno do desenvolvimento do saber. Os portugueses se tocaram, desde muito tempo, que a educação não era somente um caminho, mas o único caminho para o sucesso profissional.
Sendo assim, começaram a organizar cursos, incentivar a produção científica, a pesquisa, a troca de informação entre os profissionais e a formação contínua dos seus treinadores. Atualmente, é um dos países com maior produção acadêmica do mundo no tocante ao futebol, aonde as livrarias estão sempre repletas de excelentes bibliografias. Faça um teste você mesmo, que está lendo esta coluna: digite “José Mourinho livro” em um site de busca e verás a variada gama de obras destinadas a entender os métodos do português que puxou a fileira de treinadores a um futuro exitoso.
É claro que escrever livros não faz ninguém melhor do que o outro, mas a troca de conhecimento o faz. No Brasil, por muito tempo, transmitir conhecimento era um risco de perder o espaço profissional: “por que vou ensinar ao outro se poderá me roubar o emprego?” Uma bobagem! Conhecimento que não pode ser transmitido não é conhecimento, mas simplesmente tomada de informação, como diz meu amigo Felipe Ximenes. Os portugueses entenderam isso muito antes de nós, brasileiros, que estamos vivendo nos últimos anos este ponto de ruptura. A questão agora é que eles já saíram muito na frente.
Falando em José Mourinho, ele também é uma das razões que podemos elencar para o sucesso da escola portuguesa. Foi ele quem desbravou as fronteiras, multicampeão em diversos países, abrindo portas para seus compatriotas. Entretanto, junto dele, carregou o que, sem sombra de dúvidas, devemos elencar como peça fundamental deste processo: a Periodização Tática.
A inquietude dos treinadores portugueses em buscar soluções para o treino fez com que o portugues Vítor Frade criasse uma metodologia de treino que iria revolucionar a história do futebol. A Periodização Tática rompeu completamente com os métodos de treinos utilizados até então, oriundos do leste europeu e da Rússia (Matveev e Verkhoshanski). Estes métodos eram utilizados em larga escala para esportes individuais, principalmente atletismo e halterofilismo. Hoje parece ser óbvio afirmar que não faz sentido um esporte coletivo como o futebol, com alta densidade competitiva, uma carga cognitiva acentuada, possa usufruir das mesmas atividades de treino. Contudo, até pouco tempo atrás, inclusive no Brasil, estas teorias ainda eram vigentes.
Em linhas gerais, a Periodização Tática é uma metodologia de treino que entende a dimensão tática como a matriz coordenadora de todo o processo de treino, na qual as dimensões física, técnica e mental a seguem por arrasto. Ela possui uma matriz conceptual norteada pela modelação da Ideia de Jogo do treinador e uma matriz metodológica norteada por Princípios Metodológicos e a criação de um Morfociclo Padrão (forma de organizar a semana de treino). Através desta metodologia, desde o primeiro dia, o treinador está focado na organização e intencionalidade coletiva da equipe. Tal processo possibilita a otimização do tempo de preparação, dando uma identidade à equipe de forma mais célere.
José Mourinho foi um dos primeiros treinadores a se utilizar dessa metodologia, que agora é amplamente difundida mundo afora, apesar de ainda pouco compreendida por muitos, dada a sua alta complexidade. Mais uma vez convido o leitor a digitar “Periodização Tática” em um site de busca.
Agora é arregaçar as mangas e buscar diminuir o tempo perdido, aprofundando nos estudos e na preparação do nosso futebol. Simbora?