David Braga é CEO da Prime Talent. Professor da Fundação Dom Cabral, Presidente da ABRH-MG, Presidente do Conselho de Administração do ChildFund Brasil e Vice Presidente do Conselho de RH da ACMINAS

Enquanto Fed corta juros, BC segura os seus

Publicado em 25/10/2025 às 07:00.
 (Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo)
(Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo)

Hoje o dia começou no Brasil com o foco em números que ensaiam uma trégua. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou alta de apenas 0,18% em outubro, ante 0,48% em setembro, reduzindo o acumulado de 12 meses para menos de 5%.

Apesar desse movimento de alívio, impulsionado pela redução das tarifas de energia e pela estabilidade de alguns itens, o panorama não inspira relaxamento automático.

Em Jacarta, o presidente do Banco Central do Brasil (BC), Gabriel Galípolo, ressaltou que, mesmo com “inflação relativamente controlada”, o fato de ela ainda estar fora da meta exige juros “em nível elevado por um período prolongado”.

Em outras palavras, há progresso, sim, mas o BC decidiu que ainda não é hora de soltar o braço. O copo está meio cheio, mas o recado é claro, “precisamos de mais dados”.

EUA: inflação resistindo e cortes de juros quase contratados

Do outro lado do mapa, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de setembro, nos Estados Unidos, mostrou alta de aproximadamente 3,0% na base anual e cerca de +0,3% na margem. Mesmo assim, o cenário de políticas monetárias continua marcado por expectativas quase unânimes, cerca de 98%, de mais um corte de 25 pontos-base pelo Federal Reserve (Fed) em 29 de novembro, seguido por outro em dezembro.

O paradoxo é curioso, a inflação não dá trégua, mas os juros baixos seguem como cenário provável. Em outras palavras, o Fed não quer apenas vencer a inflação, quer evitar que o remédio (juros altos) mate o paciente (a economia).

Sanções dos EUA e da União Europeia à Rússia pressionam preço do petróleo

No meio da turbulência, o barril de petróleo reagiu com força, alta superior a 5%, diante das sanções dos EUA e da União Europeia à Rússia. Esse movimento trouxe pressão sobre combustíveis, risco inflacionário maior e impacto nas bolsas de energia, o que ajudou o Ibov a reconquistar os 145 mil pontos na semana.

No câmbio doméstico, o dólar teve queda modesta, para R$ 5,38, como se os investidores estivessem dizendo, “ok, vou acompanhar, mas sem empolgação”. O real parece ter encontrado um nível de conforto temporário, observando de longe tanto a agenda econômica quanto a política externa.

Lula e Trump: tarifas, diplomacia e tensão

Aqui entra uma das cenas de bastidor mais relevantes da semana, o encontro entre os presidentes Lula e Donald Trump, previsto para domingo na Ásia, durante os eventos da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC). O tema principal? A tarifa de até 50% que os EUA impuseram a produtos brasileiros.

A conversa anterior entre os dois, uma videoconferência de 30 minutos qualificada por Trump como “very good”, abriu esse canal de diálogo. Esse cenário conecta-se diretamente às variáveis macroeconômicas, tarifas elevadas pressionam exportações, reduzem receitas externas, afetam o câmbio e, indiretamente, podem puxar a inflação. Logo, se o encontro render algo concreto, o impacto poderá reverberar tanto no custo de vida da população, quanto nas expectativas de juros do país.

Vivemos um momento em que inflação, juros, câmbio e relações internacionais caminham em passos conectados, mas ainda sem desfecho definido. O mercado monitora cada curva, cada entrelinha das políticas. O quadro não está parado, mas sim em modo vigília. Tudo pode mudar a qualquer instante, e estar preparado para isso faz toda a diferença. Seguimos vigilantes.

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