Ainda sob o reflexo positivo das movimentações baixistas do dólar e dos recordes históricos do Ibovespa na semana passada, os mercados iniciam esta semana atentos aos próximos passos do Federal Reserve. O foco está nos dados que serão divulgados ao longo dos próximos dias, a leitura final do PIB, os PMIs e, principalmente, o índice PCE (Índice de Preços de Gastos de Consumo Pessoal nos EUA), indicador-chave de inflação e termômetro decisivo para as projeções de juros adicionais ainda neste ano. A fala de novos dirigentes do Fed, incluindo o recém-indicado Stephen Miran, completa o cardápio de incertezas.
Risco de Paralisações em Washington
A política americana também entra no radar. Sem acordo entre democratas e republicanos para financiar as agências federais, cresce a possibilidade de paralisação parcial do governo em 1º de outubro. Trump reconheceu as negociações em andamento, mas já sinalizou que o impasse pode se arrastar. Caso se confirme, será mais um episódio de instabilidade política com reflexos sobre a confiança dos investidores, aumentando o risco de volatilidade no câmbio.
Brasil: Ata do Copom e demais indicadores econômicos
No Brasil, as atenções se voltam para a ata do Copom, que será divulgada amanhã (23), e deve detalhar a decisão de manter a Selic em 15%, além do Relatório de Política Monetária. Na sequência, entram na pauta o IPCA-15 e os números do setor externo, completando a agenda econômica da semana. A equipe do Ministério da Fazenda também apresenta o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, que deve confirmar um bloqueio próximo a R$ 10,7 bilhões, valor já antecipado em julho. A boa arrecadação até aqui sustenta a meta fiscal, ainda que o déficit estimado de 0,15% do PIB permaneça no radar.
O Discurso de Lula na ONU sob a Tensão com os EUA
Lula ocupa o centro da cena global ao abrir a Assembleia Geral da ONU. Como de costume, cabe ao Brasil inaugurar os discursos, e o presidente promete defender democracia, soberania e multilateralismo. Ele falará na terça-feira (23), logo após as falas do secretário-geral da ONU, António Guterres, e da presidente da 80ª Assembleia Geral, Annalena Baerbock. Nos bastidores, no entanto, a tensão com os Estados Unidos persiste. Desde a volta de Trump à Casa Branca, o Brasil convive com tarifas de 50% sobre exportações e com a ameaça de novas medidas punitivas. Não há reunião direta prevista entre os dois líderes, mas a simples proximidade já mantém a diplomacia em estado de alerta.
No Congresso, a Batalha por Imunidade e Seus Reflexos Econômicos
No Congresso, a pauta doméstica não é menos intensa. Avançam as discussões sobre a isenção do Imposto de Renda, a regulamentação da reforma tributária e a chamada MP do tarifaço, voltada a amortecer os efeitos das medidas americanas sobre empresas brasileiras. Além disso, retornam ao debate projetos polêmicos como a Lei da Anistia e a PEC da Blindagem, ambos capazes de mobilizar ruas e plenários. A proposta, que busca impedir o andamento de processos criminais contra parlamentares sem autorização do Congresso, já foi aprovada na Câmara e chega ao Senado cercada de resistência. Críticos a veem como um “escudo de impunidade”, enquanto defensores alegam tratar-se de preservar a independência do Legislativo.
O resultado dessa tramitação tende a impactar não apenas o ambiente político, mas também a percepção dos investidores sobre a estabilidade institucional. Junte-se a isso os fatores internacionais e domésticos e temos o enredo perfeito para uma semana em que praticamente todos os agentes de mercado ficam na defensiva, se protegendo da possível volatilidade.