A condenação de Bolsonaro e seus aliados nem havia esfriado quando Donald Trump resolveu dar seu pitaco, classificando o julgamento como “terrível” e lembrando que já passou por algo parecido em seu próprio quintal político. Em seguida, Marco Rubio subiu o tom no X, acusando Alexandre de Moraes de perseguição e prometendo reação dos Estados Unidos. Até se falou em revisar exceções da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A diplomacia americana, parece, trocou o memorando formal por mensagens curtas em rede social, rápidas, mas com cheiro de pólvora.
O Itamaraty não se intimida
O Itamaraty não demorou a rebater, dizendo que não se intimida e que defenderá a democracia de qualquer interferência externa. Lula reforçou a linha, afirmou que reagirá se houver medidas contra o país, mas repetiu que prefere negociar a abrir novos conflitos. É o duplo movimento clássico, mostrar firmeza e, ao mesmo tempo, sinalizar moderação, ainda que tais gestos pareçam irrelevantes e sem peso.
A jogada da Anistia
Enquanto isso, em Brasília, a oposição encontrou na anistia o seu cavalo de batalha. Deputados do Centrão e do PL já articulam para acelerar a pauta, defendendo que o voto divergente de Luiz Fux é sinal de que há espaço para revisão. Gleisi Hoffmann reagiu com dureza, afirmando que votar anistia logo após a condenação seria “dar um tapa na cara do Supremo”. Para o governo, a ordem é travar essa discussão e priorizar outras medidas no Congresso, como a tarifa social de energia.
Tarcísio herdeiro ou estrategista?
No tabuleiro eleitoral, Tarcísio de Freitas ganhou destaque. Considerado herdeiro político de Bolsonaro, defendeu que as condenações foram injustas e que a história ainda revisará a decisão. Mas aliados o aconselharam a baixar o tom, depois do desgaste com declarações no 7 de Setembro. É o dilema do governador paulista, precisa se manter leal ao bolsonarismo para herdar votos, mas sem parecer um “carniceiro” ou oportunista.
O que decidiu o STF?
Só então chegamos ao palco central, o julgamento em si. Por quatro votos a um, a Primeira Turma do STF considerou Bolsonaro líder da “tentativa de golpe” e o condenou a regime fechado. Generais e ex-ministros também receberam penas pesadas, além da multa coletiva de R$ 30 milhões. Todos perderam os direitos políticos por oito anos, mas podem recorrer em 15 dias. O detalhe foi o voto solitário do ministro Fux pela absolvição, agora usado pela oposição como munição no discurso da anistia.
A (In)esperada reação do mercado
Enquanto o embate político se desenrolava, o Ibovespa cravou um novo recorde nesta semana, superando os 144 mil pontos pela primeira vez. O movimento foi sustentado pela expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos e pelo bom desempenho dos bancos. No dia seguinte ao feito, o índice recuou em clima de realização de lucros, mas sem apagar a alta histórica. A oscilação mostra que o mercado segue confiante, ainda que atento aos próximos passos do Banco Central americano (Federal Reserve).
Já o dólar deu sequência a uma trajetória de queda e atingiu o menor nível em mais de um ano, rondando os R$ 5,35. A combinação de juros altos no Brasil e projeções de afrouxamento monetário no exterior tornou o real mais atraente. O resultado é um mercado mais animado, com a bolsa em alta e a moeda americana mais fraca, ainda que ambos dependam do sempre volátil humor global.