Dinheiro em JogoRafa Anthony é trader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

Conversas, balanços e apostas: bastidores da economia global

Publicado em 02/05/2025 às 16:03.Atualizado em 02/05/2025 às 16:03.

A guerra comercial, e o eterno ‘vamos conversar’

Na mais recente movimentação do xadrez comercial entre China e Estados Unidos, o Ministério do Comércio chinês anunciou estar avaliando uma proposta americana para iniciar conversas sobre a guerra comercial. O comunicado chinês veio acompanhado de um pedido direto: os EUA precisam “mostrar sinceridade” e rever tarifas unilaterais e práticas consideradas “equivocadas”. Em outras palavras, antes de sentar à mesa, a China quer ver um gesto de boa-fé.

Trump, por sua vez, fez declarações durante o feriado que, embora vagas, foram consideradas animadoras pelos mercados. Mencionou negociações com cerca de “200 países”, um número que desafia até a geografia, e apontou Scott Bessent, secretário do Tesouro, como o condutor dessas tratativas. Bessent demonstrou otimismo, afirmando confiar na disposição de Pequim para um acordo. Já o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hasset, disse estar “esperançoso”, com o progresso comercial entre EUA e China.

E é justamente aí que está o ponto mais revelador: o que temos até agora não são avanços, mas promessas de diálogo. O cenário continua indefinido, sustentado mais na retórica do que em ações concretas. O “diálogo” ainda se resume a comunicados e declarações públicas, em um jogo diplomático onde cada palavra é cuidadosamente medida, mas os resultados práticos seguem adiados.

Mas calma, há esperança. Afinal, se até dietas de segunda-feira às vezes funcionam, por que não as negociações entre duas superpotências?

E se o mercado fosse um baile dançante?

Se compararmos o mercado a uma festa dançante, Microsoft e Meta brilharam na pista com lucros sólidos, levantando o astral das bolsas de Nova York. Mas, como toda boa festa tem aquele casal que pisa no pé, Apple e Amazon entraram no after hours de sapatinho apertado: seus balanços frustraram os investidores e derrubaram as ações.

No compasso da economia, os indicadores confirmaram o que já era rumor nos bastidores: o mercado de trabalho americano anda cambaleando. Dados fracos do JOLTS, do ADP e o aumento nos pedidos de auxílio-desemprego foram só a introdução. Agora, com a coreografia completa, crescem as apostas de que Jerome Powell possa cortar os juros já em junho. Afinal, com a economia tropeçando e o desemprego subindo, talvez seja mesmo hora de mudar a música.

Já no Brasil...

O mercado financeiro voltou do feriado com a mesma energia de quem retorna do Carnaval direto para uma reunião de orçamento: desanimado, confuso e rezando para que China e EUA façam as pazes.

Os investidores estão de olho no Copom, que já sinalizou um aumento na Selic na próxima quarta-feira. A dúvida é se virá de salto alto (0,50 p.p.) ou de sapatilha (0,25 p.p.). O dólar deu uma trégua e o emprego começou a esfriar — fatores que podem dar ao Banco Central margem para aliviar o ritmo.

Na Vale, o clima continua de mudança. Sai Alexandre D’Ambrosio, entra Sami Arap como novo vice-presidente executivo jurídico. O nome até parece de herói de novela turca, mas sua formação é jurídica e sua aprovação pelo conselho reforça a estratégia do novo CEO, Gustavo Pimenta. A dança das cadeiras na mineradora está sendo acompanhada com mais expectativa que o final de novela das nove.

E, por falar em novela, a Petrobras foi intimada pela Justiça a vasculhar seus arquivos e apresentar um parecer jurídico de 2014 — aquele que justificou o pagamento de reajustes retroativos para aposentados da Petros. A trama envolve documentos antigos, decisões judiciais e uma leva de advogados. Tem tudo para virar série.

No fim das contas, o Brasil continua sendo aquele personagem que tenta surfar as ondas internacionais com uma prancha furada e uma maré interna instável. Mas seguimos firmes, de olho no câmbio, na Selic e, claro, no próximo capítulo dessa saga.

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