
O governo decidiu reativar a cobrança do IOF sobre operações de crédito. O objetivo era arrecadar cerca de R$ 12 bilhões e ajudar a manter a meta fiscal de pé. A medida, do ponto de vista técnico, fazia sentido. Mas, na prática, o anúncio pegou mal no Congresso.
Parlamentares não gostaram de serem deixados de fora da conversa e reagiram rápido, apresentando um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para derrubar o decreto. Diante disso, o presidente Lula recorreu ao STF para tentar garantir a validade da medida. O que era para ser apenas uma decisão fiscal acabou virando um novo capítulo da tensão entre os poderes, com discursos públicos, bastidores agitados e ameaças cruzadas.
Entre articulações políticas e disputas institucionais
O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta, foi um dos primeiros a se posicionar contra a medida e acabou se tornando o rosto da resistência. A discussão ganhou ainda mais espaço durante o Fórum de Lisboa, que reuniu autoridades dos Três Poderes.
Arthur Lira criticou publicamente a decisão do governo de acionar o Judiciário, afirmando que o STF não deveria interferir em temas orçamentários, sinal claro de insatisfação do Legislativo com o Executivo.
Tentando amenizar o clima, o ministro Fernando Haddad elogiou o próprio Lira e afirmou que o diálogo entre os dois segue “de alto nível e transparente”. Haddad também destacou a atuação de Lira como relator do projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil mensais, promessa de campanha do presidente Lula com forte apelo popular. Ninguém quer carregar o ônus de barrar essa proposta. Mas, para que avance, será necessário compensar a perda de arrecadação e é aí que o IOF volta ao centro da discussão.
EUA aprovam pacote trilionário com impacto fiscal e social
Enquanto o Brasil discute arrecadação e judicialização, os Estados Unidos celebraram o 4 de Julho, dia da Independência americana, com a assinatura de um ambicioso pacote fiscal de US$ 3,4 trilhões pelo presidente Donald Trump. Aprovado por margem apertada na Câmara, o projeto prevê cortes de impostos, ampliação de isenções e fortes restrições a programas sociais, como Medicaid, alimentação e financiamento estudantil.
A proposta também elimina incentivos à energia limpa e à compra de veículos elétricos, indo na contramão da política ambiental dos últimos anos. Embora defensores do plano afirmem que os cortes podem estimular o crescimento no curto prazo, o próprio Tesouro americano reconhece que a medida pode tornar a dívida pública insustentável no médio e longo prazos. Para mitigar o impacto imediato, o texto eleva em US$ 5 trilhões o teto da dívida, afastando temporariamente o risco de calote.
Além disso, Trump anunciou que retomará a aplicação de tarifas comerciais para países que ainda não fecharam acordo com os EUA. Apenas Reino Unido, China e Vietnã conseguiram uma trégua até agora. A medida deve ampliar a incerteza nas relações comerciais globais.
Duas realidades, um mesmo desafio
Apesar das diferenças entre Brasil e Estados Unidos, os dois países vêm utilizando a política fiscal como ferramenta de governo, seja para manter metas, seja para cumprir promessas eleitorais.
O desafio, em ambos os casos, é o mesmo, encontrar equilíbrio entre arrecadação, gasto e responsabilidade. E, principalmente, evitar que decisões de curto prazo acabem comprometendo o futuro das finanças públicas.