A semana termina com um raro sopro de trégua no noticiário internacional. O cessar-fogo entre Israel e o Hamas, negociado com aval dos Estados Unidos e apoio de países árabes, trouxe um alívio temporário aos mercados. O ouro e o petróleo, que haviam se sustentado na escalada do conflito, recuaram. Donald Trump agora deve embarcar para o Oriente Médio para selar o acordo e aproveitar o crédito político que vem disso tudo.
Derrota do Governo no Congresso exige novo plano fiscal
O foco do governo se dividiu entre o esforço para reorganizar as contas após a derrubada da MP do IOF e o lançamento do novo modelo de crédito imobiliário. A frustração no Congresso foi sentida. A proposta, que previa arrecadação extra e ajuste fiscal, naufragou, e as reações de Haddad foram imediatas no X à bancada do PT, que já apresentou um novo projeto elevando a taxação das bets de 12% para 24%.
O episódio reforçou o desgaste na articulação política e reacendeu preocupações com a meta fiscal. O dólar reagiu, encerrando a quinta-feira na casa dos R$ 5,37, enquanto o Ibovespa oscilou em queda moderada. O recuo do petróleo, que normalmente seria positivo para conter pressões inflacionárias, acabou pesando sobre ações da Petrobras e limitando ganhos no índice.
Lula aposta no crédito imobiliário para classe média
Em meio às incertezas fiscais, o governo buscou um ponto de estabilidade, o crédito imobiliário. O novo modelo anunciado por Lula pretende flexibilizar o uso dos recursos da poupança, permitindo que os bancos ampliem a oferta de crédito e garantam fôlego ao setor da construção civil. A expectativa é de um impacto entre R$ 20 e R$ 25 bilhões em financiamentos, com o modelo em transição até 2027.
Além disso, o programa prevê um aumento no teto do SFH, de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões, e a criação de uma linha de crédito para pequenas reformas, entre R$ 5 mil e R$ 30 mil. A medida, embora técnica, tem claro apelo político, sinaliza atenção à classe média e reforça o discurso de inclusão econômica num momento em que o governo busca reequilibrar sua narrativa.
BC mantém juros altos mesmo com inflação menor
No campo monetário, o IPCA de setembro veio abaixo do esperado, mas não alterou a postura do Banco Central. O tom segue firme, juros em 15% por mais tempo, até que a inflação mostre convergência duradoura. No mercado de juros futuros, o alívio foi pontual, com ajustes discretos nas curvas mais longas.
O diagnóstico permanece o mesmo. O BC não parece disposto a antecipar cortes, ainda que o cenário internacional sugira espaço para flexibilização no futuro. O consenso é que o ciclo de afrouxamento deve começar apenas no primeiro trimestre de 2026.
Ruído fiscal e fala do presidente do BC levam dólar à lua
Toda essa expectativa e a fala positiva do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, fizeram o dólar decolar. O problema foi o próprio Galípolo explicar que isso “aumentaria a potência monetária”, o que para o mercado soa mais ou menos como dizer que refrigerante ajuda na dieta. De repente, as mesas de operação começaram a ouvir aquele velho refrão: “lá se vai a autonomia do Banco Central”. Entre o susto com os títulos privados e o ruído político, o dólar foi ganhando confiança, saiu de R$ 5,37, bateu na casa dos R$ 5,50 e fechou o dia de ressaca com uma alta de 2,83%, demandando cautela e um curto prazo incerto.