Rafa AnthonyTrader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

Juros no radar e Banco do Brasil dá um show

Publicado em 19/08/2025 às 06:05.
 (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil )
(Marcello Casal Jr/ Agência Brasil )

O mercado continua pressionando o Banco Central a sinalizar cortes de juros antes do esperado. A aposta é que a Selic possa cair abaixo dos 15% já em dezembro ou janeiro. Mas, até agora, a autoridade monetária mantém o discurso conservador. O desafio é que, mesmo com a política monetária contracionista, a economia mostra força, os serviços surpreenderam em junho e a taxa de desemprego caiu para 5,8%. Isso sustenta a resistência do DI (taxa de Juros) curto em ceder, ainda que os prêmios de risco tenham recuado em outros vencimentos.

O termômetro do câmbio

Mesmo com a perspectiva positiva no Brasil, o real ainda depende da desvalorização externa do dólar para brilhar. Por isso, as atenções se voltam para os EUA, mais precisamente para Jackson Hole, onde Jerome Powell, presidente do Fed, deve oferecer pistas sobre o início do ciclo de cortes nos Estados Unidos. O consenso aponta para setembro, mas sem atender às pressões de Donald Trump por um corte mais agressivo. Mary Daly (Membro do FED) já reforçou que dois ajustes parecem razoáveis, considerando um mercado de trabalho em desaceleração moderada e uma inflação ainda acima da meta. Enquanto isso, o dólar segue perdendo força globalmente e, no Brasil, encerrou a semana abaixo de R$ 5,40.

O pé de uva e a política comercial

E quando você acha que o mercado já está agitado, surge o presidente Lula com uma muda de uva no jardim do Alvorada. De joelhos na terra, ele manda um recado direto a Trump: “pode taxar a uva brasileira, porque, se sobrar, vai para a merenda escolar”.

A mensagem parece clara, tentar transformar um problema comercial em narrativa de resistência e pressionar, de alguma maneira, por um possível acordo que diminua as tarifas de produtos específicos ainda atingidos pelo tarifaço.

No entanto, pesquisa Datafolha mostrou que 35% da população atribui a Lula a responsabilidade pelas tarifas. Bolsonaro e seu filho Eduardo também aparecem na lista, mas com menor peso. O episódio evidencia que a disputa comercial acabou migrando para o terreno político e da opinião pública.

Banco do Brasil em forte alta, mesmo com resultado ruim

No dia 4 de agosto, trouxe uma coluna dedicada ao Banco do Brasil, falando sobre a forte queda que suas ações sofreram, mas pontuando que aquele movimento poderia trazer oportunidades. Pois bem, na sexta-feira, o Banco do Brasil chamou atenção ao subir 4,03%, para R$ 20,65, contrariando a maré de notícias negativas. O movimento não refletiu exatamente confiança nos fundamentos, mas sim um ajuste técnico, investidores que estavam vendidos na ação, apostando em um balanço fraco, foram obrigados a recomprar papéis para encerrar posições.

Isso sustentou a alta, ainda que o resultado trimestral tenha sido o mais baixo em quase cinco anos, com a sinalização de que 2025 será um período de ajustes, sem previsão de dividendos extraordinários. A declaração do vice-presidente de Gestão Financeira e RI, Geovanne Tobias, reforçou o tom cauteloso, lembrando que o banco terá de navegar com disciplina em um ano de desafios. Desde minha coluna, a ação já se valorizou aproximadamente 14,5%.

Nem sempre o mercado traz oportunidades específicas em um cenário tão conturbado, no qual política e juros têm impactos diretos e significativos. Continuamos aqui tentando decifrar os potenciais gatilhos que possam se converter em ganhos reais.

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