À medida que se aproxima a data prevista para a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, a crise comercial ganha contornos mais amplos: ela já não diz respeito apenas às exportações, mas também à diplomacia, aos recursos naturais e às disputas políticas internas e externas. No centro do impasse, o Brasil busca manter a serenidade enquanto lida com pressões múltiplas e tenta preservar seus interesses estratégicos.
Alckmin abre canal direto com os EUA
A principal novidade dos últimos dias, em um enredo que mais parece episódio de “House of Cards: Edição Mercosul”, veio do vice-presidente Geraldo Alckmin, que anunciou ter tido uma conversa de 50 minutos com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Segundo ele, foi um diálogo respeitoso, objetivo e técnico, abrindo espaço para uma possível reversão da tarifa antes de 1º de agosto.
Alckmin deixou claro que o Brasil não deseja confrontos e que está disposto a construir soluções comerciais vantajosas para os dois lados. “Não criamos esse problema, mas queremos resolver”, afirmou. A conversa incluiu a possibilidade de ampliar o comércio bilateral, discutir um acordo de bitributação e incluir os chamados minerais estratégicos na pauta.
Minérios estratégicos entram em cena
A menção a minerais estratégicos como lítio, nióbio e terras raras, trouxe um novo elemento à mesa. Esses recursos, cada vez mais valorizados por seu papel na transição energética e na indústria de defesa e tecnologia, são considerados essenciais pelos Estados Unidos.
Embora o Brasil exporte apenas uma fração desses minérios para o mercado americano, o interesse é crescente. O encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, inclusive reforçou esse ponto em evento recente.
Lula, o guardião do subsolo
Mas enquanto Alckmin negociava, Lula levantava o punho no palanque, direto do Vale do Jequitinhonha. Num discurso recheado de “ninguém põe a mão aqui”, deixou claro que os minérios são do Brasil, por direito e por orgulho.
Se o objetivo era enviar um recado à Casa Branca, a mensagem foi clara: negociar, tudo bem. Entregar o subsolo de bandeja, jamais.
Justiça e liberdade de expressão: nova decisão de Moraes
Enquanto isso, o ministro Alexandre de Moraes rejeitou pedidos da defesa de Bolsonaro para rever medidas cautelares, mantendo as restrições, mas esclarecendo que o ex-presidente pode conceder entrevistas, desde que não utilize redes sociais ou transmissões ao vivo para contornar proibições anteriores.
A decisão mantém o cerco jurídico, mas busca evitar conflitos desnecessários quanto à liberdade de expressão.
Plano B: exportar o agro para outro mapa
Enquanto o barulho político ecoa entre Brasília e Washington, o governo já prepara o plano B: redirecionar o agro para Oriente Médio, Ásia e o que mais aparecer no GPS comercial.
Suco de laranja, café, carne bovina e até pescados estão na lista dos produtos que podem mudar de destino.
Os próximos dias serão decisivos. O diálogo foi iniciado, mas os desafios ainda são grandes. Até 1º de agosto, vale acompanhar o noticiário com o mesmo cuidado com que se acompanha o preço da gasolina: qualquer faísca pode provocar uma explosão.