A China, os EUA e o Alívio (Relativo) dos Mercados
Na coluna anterior, comentei que, em pleno fim de semana suíço, EUA e China se preparavam para mais uma rodada de negociações. E, como bons anfitriões, os mercados globais já ensaiavam um sorrisinho de canto. Rumores apontam que Donald Trump cogita cortar pela metade as tarifas sobre produtos chineses. Sim, o mesmo governo que inventou o tarifaço agora parece querer virar o próprio antídoto.
As conversas indicam uma redução das alíquotas para algo entre 50% e 54%, com bônus de 25% para o sul da Ásia. Enquanto isso, a China comemora a disparada nas exportações dos últimos meses, quando todos correram para comprar antes que a bomba tarifária de 145% estourasse. Resta saber se essa paz armada durará mais que um tweet presidencial.
O Fed mantém os juros e a paciência
Como se não bastasse a política comercial em modo suspense, ainda temos o embate Trump vs. Powell. Jerome Powell dá uma aula de como (não) agradar a um presidente. Enquanto Trump o acusa de ser "teimoso" e "insensível", Powell mantém os juros americanos estáveis em 425-450 pontos-base e repete, como um mantra: “É apropriado que tenhamos paciência.”
Parece que Powell está para a política monetária assim como o Dalai Lama está para o trânsito de São Paulo: calmo, mesmo com buzina na orelha.
Ele até reconhece que as incertezas aumentaram, em parte, graças às políticas protecionistas de Trump, mas insiste que a economia americana segue firme. O mercado de trabalho continua forte, e o fantasma da recessão, por ora, foi embora, pelo menos até o próximo dado decepcionar.
O mais revelador, no entanto, foi o recado indireto: Powell deixou claro que não vai marcar café com Trump para discutir juros. “Nunca pedi e nunca pedirei”, disse, numa elegante demonstração de que, no Fed, a palavra independência é levada ao pé da letra.
No Brasil, Copom aposta na alta dos juros
Enquanto o mundo se distrai com a guerra comercial, o Banco Central brasileiro faz seu próprio malabarismo. Na última quarta, foi a vez do Copom subir ao palco e aumentar a Selic em 0,5%, para 14,75%. Mas deixou claro que o espetáculo não acabou, afinal, ninguém sabe se já estamos no fim do ciclo de alta.
Trocaram o maestro, mas a música continua a mesma. Só que agora ninguém desafina nas críticas. Parece que a taxa Selic também mede o silêncio seletivo.
Temporada de Resultados: uns no champanhe, outros no analgésico
A semana foi marcada por uma enxurrada de resultados trimestrais. E, como sempre, o mercado mostrou seu lado imprevisível: algumas empresas brilharam, outras tropeçaram, e os investidores foram lembrados, mais uma vez, que paciência é um ativo tão valioso quanto um bom portfólio.
De um lado, companhias como PRIO, Suzano, Carrefour e Localiza apresentaram números robustos. De outro, Magalu enfrentou ventos desfavoráveis. No meio disso tudo, Cogna e Yduqs surfaram nos rumores de fusão. É assim mesmo: o mercado sobe, desce, dá voltas, mas segue em frente. Quem investe sabe que, no longo prazo, o importante é não perder o sono – nem a carteira – com os solavancos do caminho.
O Mundo em Espera (de novo...)
Se a economia global fosse uma série, esta semana teria de tudo: suspense (Fed x Trump), romance (China x EUA) e drama (Copom x inflação). Enquanto os protagonistas decidem se brigam ou se abraçam, os investidores seguram a pipoca à espera de definições e tentando não piscar no meio da tensão.