Rafa AnthonyTrader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

O mercado financeiro sorri para Tarcísio e está atento a reciprocidade tarifária

Publicado em 30/08/2025 às 06:00.

No meio da semana, quando o mercado parecia seguir no compasso de sempre, uma pesquisa eleitoral mexeu com o enredo e virou protagonista. A disputa presidencial de 2026 ganhou novos contornos com a inclusão de Tarcísio de Freitas nas pesquisas eleitorais.

A pesquisa do AtlasIntel, colocando Tarcísio à frente de Lula em um eventual segundo turno, acendeu uma centelha de otimismo na Faria Lima. O Ibovespa surfou a onda e bateu recorde histórico, enquanto os juros futuros recuaram, sobretudo nos vencimentos mais longos. Para os operadores, Tarcísio virou a promessa de um Brasil mais previsível fiscalmente e, como o mercado adora previsibilidade, bastou pouco para transformar uma pesquisa eleitoral em festa no pregão.

A dança agarradinha entre política, economia e o mercado

A reação imediata mostrou como o mercado financeiro lê sinais políticos com olhos de lince. O chamado “Trade Tarcísio” nasceu porque, para os investidores, o governador de São Paulo representa responsabilidade fiscal e menor risco de aventuras econômicas. Ainda é cedo para dizer se o rali vai se sustentar, mas o simples fato de uma pesquisa redesenhar o humor da Bolsa revela como, no Brasil, política e economia dançam sempre juntinhas e, por ora, quem dita o ritmo é o candidato paulista.

Uma carta na manga de Lula

O governo brasileiro resolveu agir. Depois de semanas sinalizando cautela, Lula autorizou o Itamaraty a colocar em movimento a Lei da Reciprocidade Econômica contra os Estados Unidos, em reação à tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros. O processo já foi encaminhado à Camex, que agora conduz as etapas formais. A resposta oficial deve chegar a Washington em breve e pode redefinir o tom da relação comercial entre os dois países.

Reação dividida no mercado

A decisão surpreendeu investidores e economistas. Parte deles teme que a estratégia traga mais turbulência do que benefícios. Num primeiro momento, enxergam risco de pressão imediata sobre câmbio, juros e bolsa. Há quem avalie que Trump possa devolver a ofensiva na mesma intensidade, elevando tarifas ou impondo novas restrições.

Mas, por incrível que pareça, o mercado não repercutiu a notícia e continuou sustentando o bom momento de ontem.

Fintechs e fiscalização

Outro ponto quente da semana foi a Operação Carbono Oculto, que fez a Faria Lima, a “Wall Street” brasileira, parar nas páginas policiais. A operação revelou um esquema de R$ 52 bilhões envolvendo o crime organizado e fintechs. A partir de agora, todas serão tratadas como instituições financeiras e estarão sujeitas às mesmas regras de fiscalização dos grandes bancos. A medida corrige uma assimetria antiga e deve trazer mudanças importantes para o setor.

No fechamento do mês

Apesar das incertezas, o Ibovespa vem de um agosto positivo, acumulando alta de 6% e buscando novo recorde histórico, mas a reciprocidade nas tarifas sugere cautela na tomada de decisão. Já o dólar permanece firme, próximo a R$ 5,40, sensível tanto ao cenário externo, com os dados de inflação dos EUA, quanto ao risco fiscal interno, alimentado pelo aumento dos gastos obrigatórios e pelo déficit primário elevado em julho.

É com esse pano de fundo que fechamos a semana e o mês de agosto.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por