
Se você achou que a maior emoção da semana seria descobrir que financiar um bem com juros nas alturas é como participar de uma promoção “pague 3 e leve 1”, enganou-se.
A ata do Copom já havia nos alertado que juros baixos são uma lembrança nostálgica, quase um item de museu, mas o governo decidiu roubar os holofotes e entrar no noticiário com uma enxurrada de medidas que, dependendo do ângulo, podem soar como um gesto de amor ao povo... ou apenas mais um capítulo da série: “Você finge que me engana, e eu finjo que acredito”.
Vamos por partes.
O Pacotão
Após uma viagem diplomática à China, o presidente Lula voltou animado, não só com souvenirs, mas também com uma lista de promessas que faria qualquer assessor econômico suar frio. Segundo o jornalista Thomas Traumann, o plano é enfrentar o escândalo do INSS com um combo de medidas que inclui:
Luz grátis para 60 milhões de pessoas e um aumento de 1,5% para quem já paga, porque, na verdade, nada é de graça.
Vale Gás versão 2.0, com vouchers de R$ 110, entregues pela Caixa, e até a possibilidade de comprar o botijão em parcelas - sim, no Brasil do Pix, o gás agora pode vir em prestações.
Crédito especial para motoboys facilitando a compra de motocicletas pela Caixa e pelo Banco do Brasil. Afinal, se não dá para comprar carro com esses juros, que ao menos o entregador possa trabalhar com dignidade.
Hospitais privados atendendo o SUS, isso mesmo, a ideia é trocar dívidas de hospitais particulares por cirurgias para o SUS. Uma permuta: “você me opera o joelho e eu esqueço sua dívida milionária em imposto”. Tomara que a espera por cirurgias eletivas diminua consideravelmente.
Por fim, o Bolsa Família pode subir para R$ 700 em 2026. Bem a tempo de... você sabe, né? Aquele evento que acontece de quatro em quatro anos, com muito palanque e emoção.
Haddad e o pacote invisível
Agora, se tudo isso te pareceu um pacote de bondades para amenizar o escândalo do INSS, ou pensando nas eleições de 2026, fique tranquilo: segundo o ministro, não é.
Enquanto o mercado entrava em pânico, bolsa caindo e dólar subindo, com a perspectiva de mais gastos públicos, Haddad desceu a rampa do ministério para dar seu melhor "Calma, gente! Não existe pacote nenhum”. Tudo isso é só uma “série de medidas corriqueiras”, que, convenhamos, soa como dizer "não é um cachorro-quente, é um pão com salsicha".
Segundo ele, qualquer ruído é coisa da imprensa, aquela que insiste em fazer jornalismo. “Não sei por que ficam gerando ruídos que só interessam à especulação”, declarou.
Talvez Haddad só estivesse tentando nos lembrar que, no Brasil, o governo pode anunciar um caminhão de benefícios, desde que ninguém chame isso de pacote. Porque aí, sim, o mercado fica bravo.
Uma coisa é certa: independentemente das intenções por trás, se forem implementadas com responsabilidade, essas medidas podem representar um alívio importante para milhões de famílias em situação de vulnerabilidade.