O pregão da última sexta-feira foi daqueles que fazem o Ibovespa olhar no espelho e perguntar: “onde foi que eu errei?”. A resposta estava estampada nas cotações da Petrobras, que sozinha representa mais de 11% da carteira teórica do índice. Quando
PETR3 e PETR4 decidiram tirar um dia de folga e despencaram mais de 7%, arrastaram junto cerca de R$ 32 bilhões em valor de mercado… e um bocado do bom humor dos investidores.
O curioso é que a estatal apresentou um lucro líquido respeitável, mais de R$ 26 bilhões no 2º trimestre e um Ebitda ajustado acima de R$ 52 bilhões. Mas o mercado é como aquele amigo que sorri para a pizza e se decepciona ao ver que ela veio sem
borda recheada. No caso, a “borda” seriam dividendos mais generosos: vieram cerca de US$ 1,6 bilhão, abaixo dos US$ 2 bilhões que o consenso esperava.
Para piorar, o fluxo de caixa ficou mais tímido do que o previsto, pressionado por um consumo de capital de giro maior e por investimentos (Capex) próximos de US$ 4 bilhões. Além disso, a administração indicou baixa probabilidade de dividendos
extraordinários em 2025, devido ao cenário de preços do petróleo e à necessidade de preservar caixa para novos projetos.
Margem equatorial: a nova aposta da Petrobras
Enquanto os acionistas ainda digeriam a forte queda das ações, a Petrobras já mirava o próximo passo, uma reunião “decisiva” com o Ibama sobre a exploração na Margem Equatorial. Trata-se de uma extensa faixa marítima no litoral norte do Brasil, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, com potencial para grandes reservas de petróleo e gás, comparáveis às do pré-sal.
A presidente Magda Chambriard mandou um recado direto aos céticos: “quem apostar contra a Petrobras vai perder dinheiro”. Para facilitar o caminho, o governo editou uma medida provisória que antecipa um licenciamento ambiental “turbo” para projetos
estratégicos, incluindo o da Foz do Amazonas, onde, curiosamente, fica o berço eleitoral do presidente do Senado.
Tarifaço e plano de contenção
No cenário internacional, o governo brasileiro prepara, para esta semana, um plano de contingência contra o tarifaço de 50% imposto pelos EUA a produtos brasileiros. Entre as medidas na mesa estão linhas de crédito, flexibilização trabalhista e ampliação do
Reintegra. O vice-presidente Alckmin tenta ampliar a lista de exceções, enquanto evita retaliações e a escalada tarifária, num típico “jogo de cintura” diplomático.
Agenda de balanços da semana
A agenda de balanços está cheia e começa hoje com Direcional, Even, Itaúsa, Localiza, Marisa, Natura, Sabesp, Vamos e Vibra Energia. Amanhã será a vez de Americanas, BTG, CVC, Light e MRV. Na quarta-feira, os holofotes se voltam para Allos, Bradespar, Casas Bahia, Eneva, Equatorial, Hapvida, JBS, PagBank, Porto
Seguro, Positivo, Raízen, Rede D’Or, SLC Agrícola, Taesa, Ultrapar e Vittia.
Já na quinta, teremos 3Tentos, AgroGalaxy, Azul, Cemig, Cosan, CPFL Energia, Cyrela, IRB Re, JHSF, LWSA, Marfrig, Nubank, Oi, Qualicorp, Yduqs e Banco do Brasil, este último ainda sob repercussão de um lucro mensal mais modesto em maio
(confira a coluna do dia 4 de agosto, onde trouxe informações relevantes sobre o banco), além de Banrisul e BRF. Encerrando a semana, a Gol apresenta seu balanço na sexta-feira.
Cada uma dessas informações tem potencial para influenciar diretamente o humor dos investidores, deixando a expectativa de movimentação do mercado sem um viés direcional definido.