Em um cenário onde basta uma fala atravessada para derreter bolsas e inflar moedas de refúgio, qualquer sinal de conciliação entre potências já é recebido como um milagre. E foi exatamente isso que aconteceu no fim de semana. Bastaram dois dias de conversa entre EUA e China para que o mundo financeiro voltasse a sorrir ainda que ninguém saiba exatamente o que foi acertado. Mas, como dizem por aí, às vezes o que importa é parecer resolvido.
O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, saiu de dois dias de negociações em Genebra com um tom entusiasmado. Chamou os encontros de “produtivos” e disse que houve “progresso substancial”, prometendo um briefing na manhã desta segunda-feira com mais detalhes.
Já o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, que também participou da rodada de negociações foi ainda mais otimista: “Estamos confiantes de que o acordo que fechamos com nossos parceiros chineses nos ajudará a resolver essa emergência nacional.”
Do outro lado da mesa, os chineses também se mostraram satisfeitos. O vice-primeiro-ministro, He Lifeng, afirmou que a reunião “alcançou progressos substanciais” e chegando a um “consenso importante”. Enquanto, o representante de Comércio Internacional da China, Li Chenggang, prometeu uma declaração conjunta "em breve". Quando exatamente? Mistério. Mas garantiu que será "uma grande notícia para o mundo". Pelo visto, o mercado pode finalmente dar uma trégua à sua histeria.
Analistas comemoram, investidores agradecem
Enquanto os detalhes não chegam, os mercados respiram aliviados, e os analistas correm para interpretar os sinais.
Valentin Marinov, do Crédit Agricole, lembrou que esse tipo de anúncio costuma funcionar como um calmante para os ativos de risco, e pressiona para baixo as moedas “seguras”, como as que compõem o índice DXY (euro, libra esterlina, iene japonês, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço).
Michael Brown, da Pepperstone, avaliou que o pior cenário foi evitado. E Dan Ives, da Wedbush, considerou o fim de semana como “o melhor que os mercados poderiam desejar”, um otimismo que, sabemos, costuma durar até a próxima fala atravessada.
Como todo show americano precisa de um ato final com impacto, Donald Trump apareceu para anunciar uma ordem executiva que promete cortar os preços de medicamentos nos EUA em até 80%. Como quem diz: “acordos internacionais e remédios mais baratos, tudo no mesmo pacote”. Amanhã, ele embarca para o Oriente Médio com uma pauta digna de G20: Israel-Gaza, semicondutores, petróleo e programas nucleares.
E no Brasil? Modo "esperar para ver"
Enquanto lá fora o clima é de euforia contida, no Brasil a dúvida é clássica: o Copom terminou o ciclo de alta da Selic ou ainda dá um último suspiro? Se o BC continuar em cima do muro, os dados desta semana podem servir de bússola para ajudar o mercado e os investidores a recalibrarem suas apostas. Enfim, acabou a farra: agora é pensar em prefixar.
Temporada de balanços: o Brasil corporativo em ritmo maratona
Na bolsa, a semana promete mais números do que um livro de matemática. Nesta segunda, além da Petrobras, entram em cena BTG, Natura, Sabesp, IRB, Telefônica, Itaúsa e mais. Amanhã, destaque para JBS e Nubank. Quarta é dia de Eletrobras, Americanas e Cisco. E a quinta-feira chega pesada com BB, Marfrig, Gol — até o Walmart entra na roda. E assim seguimos, com grandes nomes desfilando resultados até sexta.
Se você gosta de emoção, esqueça a série do momento: a temporada de resultados promete reviravoltas e muito sobe-e-desce na bolsa.
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