Rafa AnthonyTrader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

Selic a 15%: uma viagem ao passado

Publicado em 19/06/2025 às 17:47.
 (Marcello Casal Jr. / Agência Brasil)
(Marcello Casal Jr. / Agência Brasil)

O Brasil amanheceu nesta quinta-feira, 19 de junho de 2025, com a taxa básica de juros em 15% ao ano. A decisão unânime do Copom (Comitê de Política Monetária) marca o sétimo aumento consecutivo desde setembro do ano passado e nos leva a um patamar que não víamos desde meados de 2006.

Se a comparação temporal já assusta, o contexto ajuda a explicar. O Banco Central justificou a decisão com um argumento já familiar, a inflação segue resistente, as expectativas continuam desancoradas, e o compromisso com a meta de para inflação segue inabalável.

Mas o comunicado do Copom trouxe uma nuance importante, a sinalização de que essa pode ser a última alta do ciclo, com os juros permanecendo “por um período suficientemente prolongado” nesse nível. Nada de cortes à vista. E, ao mesmo tempo, nenhuma garantia de que esse seja realmente o teto. A porta para novas altas continua entreaberta, caso os dados futuros “necessitem de maior aperto”.

O dilema entre inflação e crescimento
O Banco Central caminha por um fio estreito. De um lado, uma inflação ainda acima da meta, com núcleos pressionados e inércia inflacionária em serviços. Do outro, uma economia que começa a dar sinais mais evidentes de desaceleração.

Enquanto o governo mantém uma política fiscal expansionista, com incentivos e aumento de gastos, o BC cumpre o papel de frear o consumo e o crédito. A contradição não é nova, mas tem se tornado cada vez mais explícita. De um lado, pisa-se no acelerador. Do outro, o freio está cravado até o fim do curso, afinal, um carro acelerado sem limites corre o risco de sair da pista.

O setor produtivo já sente o baque. Indústria e comércio alertam que o custo elevado do crédito inibe investimentos e freia o consumo das famílias. A Selic a 15% não é apenas simbólica, ela mexe com toda a engrenagem da economia real.

Pausa estratégica ou ensaio para o próximo ato?

Embora o Banco Central tenha usado o termo “pausa”, o tom do comunicado sugere mais uma tentativa de ganhar tempo do que uma convicção real de que o pior já passou.

A leitura predominante no mercado é que o Copom elevou novamente os juros para reforçar sua imagem de autoridade rígida, preocupada com a credibilidade da política monetária. Mas muitos economistas argumentam que a Selic já estava suficientemente restritiva em 14,75%, e que esse último ajuste tem efeito prático discutível.

Ainda assim, enquanto a inflação não der sinais mais claros de convergência à meta, o comitê parece disposto a manter a pressão, ou, pelo menos, manter o ar de vigilância.

O que esperar daqui para frente?

A maioria dos analistas acredita que a taxa será mantida em 15% até, pelo menos, o fim de 2025. Cortes mais consistentes só viriam a partir de janeiro de 2026, e ainda assim de forma cautelosa e dependente da evolução dos indicadores inflacionários.

Nesse cenário, investidores mais conservadores respiram aliviados, o rendimento dos títulos públicos segue atraente. Já quem precisa de crédito, seja pessoa física ou empresa, encontra um ambiente cada vez mais caro e restrito.
Com a Selic nesse nível, há boas oportunidades tanto em investimentos pré-fixados, que permitem travar taxas elevadas por prazos definidos, quanto em pós-fixados, ainda bem remunerados com o CDI em alta. Para objetivos de longo prazo e proteção contra a inflação, os papéis atrelados ao IPCA, como Tesouro IPCA+ ou debêntures incentivadas, continuam sendo alternativas sólidas.

Conclusão provisória...

O Copom cumpriu o roteiro esperado, mas deixou claro que está pronto para novos atos, se necessário. O público, leia-se mercado, governo, imprensa e nós, assistimos de camarote essa longa novela em que os juros são o protagonista… e o crescimento do País, quase sempre, apenas um figurante.

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