Os mercados começam a semana tateando no escuro. O apagão de dados provocado pelo shutdown nos Estados Unidos já dura mais de um mês e suspende parte das divulgações oficiais. O relatório JOLTS, que mede as vagas de emprego e sairia amanhã, foi adiado, mas a pesquisa ADP sobre o setor privado está mantida. Em tempos de pouca luz, cada número vira farol.
Enquanto isso, vários dirigentes do Federal Reserve participam de eventos e entrevistas. Depois de Jerome Powell endurecer o discurso na última reunião, o mercado tenta decifrar o recado coletivo. Raphael Bostic pediu para que “não se corra à frente do Fed”. Jeffrey Schmid lembrou que a inflação ainda preocupa e que cortar juros cedo demais pode custar caro. Lorie Logan e Beth Hammack reforçaram o tom cauteloso. No grupo oposto, Christopher Waller e Stephen Miran defendem novos cortes já em dezembro. A próxima reunião do Fed será em 10 de dezembro. Até lá, novos dados trarão mais clareza às expectativas.
Divergências no Fed e o dólar segue firme
O índice DXY encerrou a sexta-feira na casa dos 100 pontos, no maior nível em três meses. O euro e a libra recuaram, e apenas o iene mostrou força. A curva de juros americana oscilou pouco, com o título de dez anos ainda acima de 4%. As bolsas de Nova York fecharam em leve alta, impulsionadas pelo balanço animador da Amazon. 
Petróleo e o relógio de Nova York com o horário de verão
No mercado de energia, a Opep+ anunciou que manterá o aumento de produção em dezembro, mas congelará a oferta no primeiro trimestre de 2026. As novas sanções contra a Rússia adicionam incerteza, e o petróleo Brent voltou a subir, aproximando-se dos $65 dólares o barril. Com o fim do horário de verão nos Estados Unidos, o pregão de Nova York passa a abrir às 11h30, no horário de Brasília. A B3 ajustou seus horários para acompanhar o novo fuso. 
O Copom e o coração de pedra
No Brasil, o destaque é a reunião do Copom nesta quarta-feira dia 05. O consenso aponta para a manutenção da Selic em 15%, mas o mercado busca pistas sobre quando o ciclo de cortes pode começar. Parte dos analistas aposta em janeiro, os mais cautelosos preferem março. O Banco Central, por enquanto, segue com o pé no freio.
Mesmo com sinais de desaceleração da atividade e leve melhora nas expectativas de inflação, o discurso deve continuar rígido.
Resultados e política
A temporada de resultados acelera com 43 balanços na B3. Itaú, Suzano, Magazine Luiza e Petrobras são os destaques da semana. A Aneel manteve a bandeira vermelha para novembro, o que pressiona o IPCA do mês, embora as projeções para o ano sigam próximas de 4,6%. Em Brasília, o Senado discute a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda e a tributação das bets. O governo tenta avançar também com o PL Antifacção, que endurece o combate ao crime organizado após a operação no Rio.
Nesta semana, a economia global parece ensaiar uma coreografia cuidadosa, com passos lentos, gestos medidos e muita atenção ao compasso. Por enquanto, o Brasil dança conforme a música, mas de olhos abertos para o maestro americano e ouvido atento às batidas do petróleo e do câmbio.