As novas demandas do retorno à escola

Publicado em 21/04/2022 às 06:00.

Léo Miranda

No programa Fantástico do último domingo, 17 de abril, uma das reportagens exibidas confirmou aquilo que os professores e as pessoas envolvidas com o dia a dia da escola já tinham observado: há algo diferente com os alunos. Na semana anterior à exibição do programa, 30 estudantes da escola pública Ageu Magalhães, no Recife, viveram um surto de ansiedade coletiva com sintomas como a taquicardia, respiração ofegante, entre outros. De imediato o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado. No relato da reportagem, um dos socorristas que participaram do atendimento relatou a perplexidade com o fato, que inclusive levou ao acionamento de múltiplos atendimentos in loco, o que normalmente acontece em episódios com múltiplas vítimas.  Os estudantes relataram que o gatilho para a reação coletiva foi uma prova, mas na reportagem não foi possível concluir se o episódio ocorreu antes ou depois dela. De qualquer maneira, o mais importante e preocupante foi a reação coletiva.

Na mesma reportagem, só que agora na cidade de Jarinu, em São Paulo, no dia 30 de março um grupo de estudantes do sexto e sétimo anos do ensino fundamental se mutilou com cortes feitos no corpo, principalmente nos braços durante o horário de aula. Pelo relato de uma das estudantes, a reação em cadeia começou quando uma aluna retornou à sala após a ida ao banheiro com um corte. Segundo o relato de outra estudante que participou da reportagem, o motivo foi uma sensação de alívio à solidão e falta de atenção dos pais.

Tanto no episódio de Recife, quanto no de Jarinu, está claro o quanto o retorno presencial dos alunos não é algo trivial, da mesma maneira que a ruptura com o ensino presencial quando do início da pandemia não o foi. Depois de quase dois anos sem contato com os outros estudantes, com o ambiente coletivo que é uma sala de aula, reações como as relatadas na reportagem do Fantástico e com certeza presenciadas em tantas outras escolas Brasil afora precisam ser analisadas de perto.

Apesar do atraso acadêmico relevante nesse período de afastamento do convívio escolar, as questões emocionais decorrentes do isolamento social são mais urgentes do que nunca. Ao mesmo tempo, as novas demandas escolares também pedem uma abordagem que inclua todos: pais, alunos, escolas. É no mínimo injusto atribuir ao professor a missão de intervir em situações em que não há respostas claras e assertivas no momento. Terceirizar responsabilidades não resolve as questões, mas sim agrava e prolonga o sofrimento de todos os envolvidos.

Se o início da pandemia mobilizou a todos, agora também não deveria ser diferente. Há a necessidade do aumento de profissionais ligados à saúde mental que ajudem a orientar esse processo nas escolas. Apesar do clichê, a conclusão de que não há receita fácil para problemas complexos fala muito sobre o momento que vivemos.

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