Guerra, desinformação e aprendizado

Publicado em 24/03/2022 às 06:00.

Léo Miranda*

No dia 26 de fevereiro tropas russas invadiram o território da Ucrânia, o que iniciou um conflito armado que completará essa semana um mês de duração. Durante esse período assistimos a escalada da violência e principalmente os absurdos que regem uma guerra serem amplamente abordados nos meios de comunicação, na imprensa, nos sites especializados, podcasts, mas principalmente nas redes sociais. Logo nos primeiros dias o assunto foi parar em todos os cantos da nossa vida cotidiana, do almoço de família, à roda de amigos e principalmente na sala de aula.

Como professor de geografia, rapidamente passei a ser procurado como alguém que poderia ajudar a desvendar os argumentos dos dois lados e o que poderia desdobrar em um grande conflito armado como não se via há muito tempo na Europa. A questão toda é que eu já acompanhava a escalada das tensões há algum tempo, não só por compartilhar os conhecimentos geográficos com os meus alunos e no meu perfil do Mundo Geográfico, mas por me interessar muito pela geopolítica mundial.  Mesmo assim, tratei de buscar o máximo de fontes seguras de informação para assegurar que meus comentários sobre a guerra não passassem de achismos ou interpretações pouco fundamentadas.

Acontece que na mesma velocidade dos acontecimentos em território ucraniano multiplicaram-se as fake news, principalmente nas redes sociais, cujas fontes muitas vezes também o são igualmente duvidosas. Segundo o velho ditado, em uma guerra “a primeira vítima é a verdade”. Nunca essa frase fez tanto sentido como nos episódios que assistimos nas últimas semanas no conflito do leste europeu.

A guerra na Ucrânia não é a primeira das redes sociais, mas com certeza é o maior conflito em tempos das disputas de narrativas e do cancelamento. O grande problema é que por meio delas, multiplicaram-se as informações e versões não necessariamente verificadas, além dos julgamentos de posturas e ações de ambos os lados, baseadas muitas vezes em interpretações rápidas de causas tão complexas. Por outro lado, a busca incessante pelo entendimento dos fatos deu voz a produtores de conteúdo realmente engajados com análises cuidadosas, como por exemplo os professores de política internacional e economia Tanguy Baghdadi e Daniel Sousa, que juntos fazem um boletim diário do conflito e seus desdobramentos por meio do podcast Petit Journal.

Tive a oportunidade de conversar com ambos pelo Instagram, com o Tanguy em 2021 sobre a saída das tropas dos EUA do Afeganistão, e com o Daniel há duas semanas sobre as consequências econômicas da guerra atual. Em ambas as oportunidades fiquei bastante satisfeito pela grande mobilização e participação de estudantes, professores e curiosos por meio das lives que organizei no perfil do Mundo Geográfico. Percebi também a importância e necessidade de abordagens que prezam pelo respeito à complexidade do mundo, mas que ao mesmo tempo permitam que possamos aprender sobre ele.

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