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Publicado em 31/03/2022 às 06:00.

Marcelo Batista

A rotina nos pré-vestibulares é sempre muito comum. No início do ano, muitos alunos ansiosos por mais um ano letivo, a busca pela readaptação e a busca por um ano de sucessos. Junto com toda essa esperança, com o passar do ano o cansaço se torna algo também visível, característica da sociedade do cansaço, proposta pelo filósofo sul coreano Byung-Chul Han. O filósofo afirma que na sociedade contemporânea, muitos em busca de um desempenho acabam passando pelo burnout, o clássico esgotamento, cada vez mais comum entre os indivíduos. Para o esgotamento, nada melhor do que os remédios: antidepressivos, ansiolíticos e medicamentos para dar um gás a mais nos estudos ou até mesmo no trabalho.

Nesse contexto, muitos se esquecem também da situação do professor: provas para corrigir, aulas para preparar, além de questões da vida doméstica, que se misturam aos diários e demandas dos mais diversos alunos. Aqui do outro lado,  sobra ansiedade, busca por desempenho e também o cansaço. Eliane Brum descreveu magistralmente o contexto atual no texto “Exaustos-e-correndo-e-dopados”, no qual afirma que diante de todas as cobranças da sociedade contemporânea muitos só têm a solução de se medicar para suportar as mais diversas pressões.

Confesso que faço parte do grupo dos medicados. No meu caso, por ansiedade. Desde sempre angustiado, preocupado e em busca do melhor desemprenho possível, há alguns anos tomo remédios para tentar me segurar no dia-a-dia. Mesmo medicado, na semana passava vivi uma experiência completamente nova e extremamente desagradável: minha primeira crise de pânico.

Estava dando aula como em qualquer outro dia, exceto por perceber minha mão um pouco mais gelada que o normal. Prossegui com o meu trabalho, mas com o passar do dia e das aulas, comecei também a sentir um pouco de suor na testa e algum receio de que algo poderia dar errado. Mesmo com o mal estar, preferi, entre uma aula e outra, passar na academia para um treino curto, somente o essencial e voltaria a dar aula logo depois do almoço. Enquanto me exercitava sentia um mal estar crescente, assim como o sentimento de insegurança, preocupação  e a sensação de que algo daria errado. Passei em casa rapidinho para almoçar e ver o Marcelinho, a visita rápida na hora do almoço para recuperar as energias. Foi quando fui surpreendido por uma crise de choro, falta de ar e a imobilidade e incapacidade de sair do lugar. Não consegui dar aula no período da tarde e precisei buscar um médico para o atendimento.

Como resultado, mais um medicamento preventivo que andará comigo na bolsa, caso a crise volte a rondar e a necessidade de mudança de uma rotina que entorpece, cansa, mas dá também uma sensação de prazer inesgotável. Exausto-correndo-e-dopado, como o século XXI exige. E no fundo a esperança de conseguir mudar de alguma forma a educação, gerar o melhor resultado dos alunos e ser o melhor marido, pai, filho, irmão e tudo mais que a vida exige.

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