Rubens de Avelar Freitas*

Nos últimos anos, algo curioso aconteceu nos bares do país: os drinks clássicos, aqueles que pareciam ter ficado presos nas páginas de livros de coquetelaria, voltaram a ocupar espaço nas mesas e nas conversas.
Negroni, Spritz e Old Fashioned, antes vistos como bebidas de nicho, ressurgiram como escolhas frequentes — inclusive entre um público mais jovem, que até pouco tempo preferia misturas mais doces e coloridas. Essa tendência revela que o brasileiro está buscando simplicidade com personalidade.
Em meio a tantas novidades no universo das bebidas, muitas vezes cheias de espuma, infusões elaboradas e apresentações teatrais, há um movimento de retorno ao essencial: poucos ingredientes, combinações diretas e sabores que atravessaram décadas sem perder força. O clássico voltou a ser sinônimo de confiança.
Por trás dessa redescoberta está um comportamento que se vê em outras áreas: a busca por referências sólidas. Em tempos acelerados, em que tendências surgem e desaparecem rapidamente, as pessoas parecem encontrar conforto no que já é conhecido. Um drink clássico oferece uma espécie de porto seguro sensorial — ele funciona, tem história e entrega aquilo que promete. Outro fator importante é a mudança no olhar dos bartenders.
Muitos profissionais começaram a valorizar técnicas tradicionais e a revisitar receitas que haviam sido deixadas de lado. Com isso, os clássicos ganharam interpretações brasileiras, seja com ingredientes locais, seja com pequenas adaptações de sabor. O resultado é um coquetel que preserva sua essência, mas conversa com o paladar de quem está do outro lado do balcão.
Essa volta também diz muito sobre o amadurecimento do público. Hoje, quem frequenta bares quer mais que apenas “algo para beber”: busca uma experiência, uma narrativa. E os clássicos carregam exatamente isso — histórias, personagens e um vínculo com o passado que, de alguma forma, torna o momento presente mais interessante.
No fim das contas, o retorno dos drinks clássicos mostra que a coquetelaria vive um ciclo natural: quanto mais se experimenta, mais se valoriza o que é atemporal. E talvez seja essa a graça de pedir um Negroni ou um Old Fashioned hoje — não é só sobre o sabor, mas sobre a sensação de que algumas boas ideias realmente nunca passam de moda.
* Gastrólogo e professor especialista em gastronomia e estudos da culinária