Rubens de Avelar Freitas*
“Minas são muitas. Porém poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais.” A frase de Guimarães Rosa revela, de forma poética, a diversidade da extensão das terras mineiras. Essa riqueza também se reflete na culinária do povo mineiro. Com uma comida simples e ao mesmo tempo profunda, como a paisagem de suas montanhas e o silêncio de seus vales.
Nas cozinhas de Minas, o tempo corre em outro ritmo. Nada de preparos apressados, o fogão a lenha esquenta lentamente e a panela de ferro carrega memórias junto com os sabores. O preparo é artesanal, transmitido de gerações em gerações, num saber que não está escrito, e sim vivido. Como canta o Clube da Esquina, “as veredas, os montes, os campos, os rios” não são apenas o cenário: são parte da alma que tempera cada prato.
"Minas não tem mar, mas tem fartura. Não tem pressa, mas tem tempo. E o tempo, quando é bom, tem gosto de casa."
Os doces também têm lugar na cozinha de Minas: doce de leite, goiabada cascão, arroz-doce,compota de laranja são mais do que sobremesas, são gestos de carinho servidos em pratinhos esmaltados, com cheiro de infância e café passado na hora.
A cozinha mineira nasce do encontro do saber indígena, com os ingredientes africanos, as mãos habilidosas das negras africanas cruelmente escravizadas e as técnicas da culinária portuguesa. Formando um mosaico afetivo de práticas de subsistência e resistência, transformado escassez em criatividade, ingredientes simples em riquezas inesquecíveis.
A culinária mineira é muito mais que um regionalismo, é uma filosofia de vida: acolhedora, afetiva, generosa. Ela ensina que cozinhar é cuidar, lembrar, resistir e acima de tudo é celebrar. Porque, em Minas, até o silêncio tem sabor.
*Gastrólogo e professor