Rubens de Avelar Freitas*

Quando pensamos em gastronomia é comum imaginar panelas no fogo, receitas elaboradas e pratos bem apresentados. Mas a verdade é que a comida e tudo o que envolve seu preparo e consumo tem um poder muito maior do que geralmente percebemos. Ela não só alimenta o corpo, mas também conta histórias, constrói identidades, movimenta economias e pode até transformar sociedades.

Cada receita traz um pedacinho de história. O tempero repassado de geração em geração, os preparos característicos de cada região, ou aquele prato que só é feito em uma determinada época do ano. A gastronomia carrega tradições e memórias. É uma forma de manter viva a cultura e a identidade de um determinado povo e de contar como somos e vivemos.

Além disso, cozinhar também é arte. Chefs e cozinheiros se tornam criadores, expressando sua visão do mundo por meio de sabores, texturas e composições. Em cada prato bem pensado, há técnica, sensibilidade e uma pitada de ousadia.

Muito além do ato de comer, reunir-se ao redor da mesa é um gesto social poderoso. Famílias se fortalecem em almoços de domingo, amizades se firmam em bares, negócios se fecham em jantares. A comida une, aproxima, cria laços.

Nossas escolhas alimentares, dizem muito sobre nós: nossas origens, crenças, hábitos. E quando abrimos espaço para conhecer e valorizar os sabores de outras culturas, ampliamos o olhar para a diversidade do mundo e aprendemos com ela.

O impacto da gastronomia vai muito além do fogão. Ela gera empregos, movimenta cadeias produtivas, sustenta famílias. Do pequeno produtor até ao restaurante mais estrelado existe uma gama de atividades sendo exercidas atrás de cada refeição que e servida.

Nas últimas décadas, o turismo gastronômico vem crescendo de forma impressionante. Gente do mundo inteiro viaja não apenas para ver paisagens, mas para provar sabores. Esse movimento aquece a economia local e valoriza saberes regionais.

Mesmo com toda essa potência, o setor gastronômico enfrenta demandas urgentes, produção em longa escala, desperdício, uso excessivo dos recursos naturais e o acesso desigual à alimentos de qualidade são aspectos que precisam ser analisados com seriedade.

Promover uma alimentação inclusiva e mais sustentável é uma responsabilidade de todos, governos, sociedade, consumidores e profissionais do ramo alimentício.

Com tanta correria, distrações, falta de tempo, para e pensar no que se vai comer pode ser considerado um ato revolucionário. Porque quando olhamos com mais atenção para o que vai ao prato, entendemos que alimentar é, também, um jeito de cuidar do outro, preservar culturas e transformar o mundo à nossa volta uma refeição de cada vez.

*Gastrólogo, professor especialista em gastronomia e estudos da culinária