Rubens de Avelar Freitas*
Entrar em um bar ou restaurante hoje já não é a mesma experiência de alguns anos atrás. A tecnologia, que antes parecia distante da rotina gastronômica, agora faz parte da mesa, do balcão e até da forma como o cliente pede seu prato favorito. O setor de alimentação foi um dos que mais sentiram os reflexos da digitalização, acelerada principalmente pela pandemia, mas que segue transformando o modo de consumir, de trabalhar e até de se relacionar dentro desses espaços.
O delivery por aplicativos talvez seja o símbolo mais evidente dessa mudança. Se antes pedir comida em casa era sinônimo de ligar para a pizzaria do bairro, hoje bastam alguns toques no celular para acessar cardápios de dezenas de lugares diferentes, comparar preços, checar avaliações e receber o pedido em minutos. Essa praticidade ampliou a concorrência, mas também deu visibilidade a pequenos negócios que, sem estrutura física de destaque, encontraram nas plataformas uma vitrine poderosa.
Ao mesmo tempo, os estabelecimentos precisaram se reinventar para lidar com as taxas cobradas pelos aplicativos e com a pressão de manter a qualidade dos pratos fora do ambiente original. Muitos passaram a investir em embalagens diferenciadas, cardápios exclusivos para delivery e até cozinhas fantasmas – espaços voltados apenas para atender pedidos online, sem salão físico. Assim, o restaurante deixou de ser apenas um lugar de convivência para se tornar também uma operação logística.
Dentro dos salões, outra transformação chama atenção: o autoatendimento digital. Totens e cardápios em QR Code vêm substituindo gradualmente a interação direta com garçons. Para alguns clientes, isso representa agilidade, controle do pedido e menos tempo de espera. Para outros, pode soar como frieza e perda de um dos maiores encantos da gastronomia: o contato humano. Restaurantes que apostam nesse modelo buscam equilibrar a eficiência tecnológica com a hospitalidade tradicional, mostrando que uma coisa não precisa anular a outra.
Os bares também entraram nessa onda. Muitos já oferecem comandas digitais acessadas pelo celular, eliminando filas no caixa. Em alguns, é possível chamar o garçom ou pedir outra rodada de chope sem levantar a mão – basta um clique no aplicativo. Essas inovações otimizam a operação e reduzem erros, mas desafiam os profissionais a se adaptarem a novas funções, mais voltadas à experiência do cliente do que à simples anotação de pedidos.
Seja pelo aplicativo que entrega a refeição em casa, pelo totem que agiliza o pedido ou pela comanda digital que elimina burocracias, a tecnologia está definitivamente posta à mesa. Cabe aos estabelecimentos escolherem a receita certa para temperar inovação com tradição – e garantir que, no fim das contas, o cliente saia satisfeito, seja pela tela ou pela porta da frente.
*Gastrólogo e professor especialista em gastronomia e estudos da culinária