Ana Paula Cardoso*
Alguns empresários ainda acreditam que crescer significa, apenas, vender mais. Mas, na verdade, pode estar apenas acelerando sua própria quebra.
No Brasil de 2025, onde o mercado está instável, os juros ainda sufocam o caixa e o consumidor está mais exigente do que nunca, vender muito sem estrutura é a receita mais curta pro colapso.
Faturamento é vaidade. Lucro é sanidade. Mas o que realmente define quem sobrevive é decisão: de modelo, de estrutura, de margem. De onde investir, onde cortar, onde proteger, onde crescer.
E aqui, cabe uma ressalva essencial: a aceleração de vendas é, sim, um dos motores mais poderosos de uma empresa. Ninguém constrói um império sem vendas fortes. O problema não está na venda, está em escalar faturamento sem uma base que aguente o peso. Crescimento sem estrutura é só um castelo em areia movediça. Quando a maré do mercado sobe, ele afunda.
Recentemente, atendi dois casos que ilustram perfeitamente essa dicotomia:
- Uma empresa que fatura mais de R$1 milhão/ mês. Margem apertada, custos fora de controle, nenhuma estratégia tributária. Crescendo no escuro, sem base, sem fôlego.
- Outra que fatura quase R$300 mil. Margem robusta, operação enxuta, planejamento fiscal afiado. Crescendo com consistência, com método, com visão.
Qual você acha que tem mais lucro?
A resposta está na estrutura. Lucro é o efeito direto da qualidade das decisões, e não da intensidade das vendas. A venda é necessária, mas não suficiente.
Enquanto muitos ainda correm para aumentar time comercial ou abrir filiais, poucos estão repensando o modelo, reavaliando margens, ajustando fluxo de caixa e tributos com precisão. E mais raro ainda: os que olham para o desenho societário, o planejamento sucessório, a inteligência patrimonial.
Não é sobre vender mais. É sobre vender melhor. Não é sobre crescer rápido. É sobre crescer certo. Não é sobre aguentar o mês. É sobre dominar o jogo.
Lucro invisível é o que escapa quando decisões são tomadas com base em vaidade, e não em inteligência. E vaidade, no Brasil, custa caro. Custa impostos mal planejados, estrutura jurídica frágil, folha de pagamento mal pensada, modelo de negócio que depende de sorte em vez de lógica.
O empresário que cresce não é o mais agressivo, mas o mais estratégico. Aquele que vende bem, e sabe exatamente o que fazer com o que vende. Inteligência empresarial começa com estrutura e gestão.
*Contadora e fundadora da Macrocont Contabilidade