Ana Paula Cardoso*
Imagine a sala fechada. O silêncio pesado. Você olha para a planilha de custos, depois para os rostos que confiam em você. Sabe que, se não cortar agora, todos vão pagar o preço lá na frente. Mas, ainda assim, a voz interna sussurra: “Será que não dá pra empurrar só mais um pouco?”
Quantas vezes você adiou uma demissão por medo de parecer cruel? Quantas vezes fingiu que uma sociedade morta ainda respirava, só para evitar a conversa que mudaria tudo?
O ponto é simples, mas brutal: decidir é amputar. É abrir mão de caminhos, pessoas e projetos que, em algum momento, fizeram sentido. E esse ato de escolher, quando dói, quando custa, quando cobra a sua paz, é o que separa o líder respeitado do gestor decorativo.
A maioria foge desse peso. Muitos preferem terceirizar. Contratam consultorias para “estudar cenários”, agendam reuniões infinitas, buscam justificativas que validem a covardia de não assumir o leme. Acham que, se ninguém apontar, ninguém vai culpá-los. Mas culpar não é o pior. O pior é perder o respeito silencioso de quem observa.
Pense nas histórias que se repetem:
O dono que mantém o gerente tóxico porque “ele traz resultado”, até a equipe se esfarelar.
O empreendedor que insiste num produto fracassado, como aquela assinatura de software caríssimo que ninguém usa, só por apego, enquanto o caixa sangra.
A empresa que posterga um corte inevitável e compromete a saúde de todos, apenas porque o dono teme a manchete.
Você acha que essas decisões difíceis tornam alguém um vilão? Não. Elas tornam alguém adulto. A maturidade emocional nasce quando você entende que proteger o conjunto exige coragem para desagradar a parte.
Decidir é como amputar um membro para salvar o organismo. Ninguém quer. Ninguém acorda animado para isso. Mas se você escolheu liderar, este é o preço. O jogo não oferece garantias de aplauso. Só a certeza de que, ao não decidir, você já está escolhendo, pelo pior desfecho.
Pode parecer duro. Mas, no fundo, é libertador. Porque ninguém vai decidir por você. Nem seu sócio, nem seu coach, nem o mercado. Cada escolha empurrada para amanhã é uma fatura com juros que alguém vai pagar.
Então, olhe de frente o que você tem evitado. O contrato que não faz mais sentido. O colaborador que não cabe mais. A despesa que corrói seu futuro. Pergunte-se: “Se eu não fosse o responsável, que decisão eu recomendaria?”
Essa resposta quase sempre é clara. O difícil não é enxergar. O difícil é ter estômago para bancar.
Hoje, você tem uma chance: parar de terceirizar culpas e escolher de verdade. Porque, no fim, quem não decide já decidiu, só não teve coragem de admitir.
* Líder em contabilidade consultiva, estratégia tributária. Fundadora da Macrocont