Paulo Jelihovschi*
Você, empresário, já deve ter passado pela seguinte situação dezenas de vezes: uma vaga se abre na sua empresa, você abre um processo seletivo, entrevista uma série de pessoas, escolhe uma para trabalhar com você com o enorme otimismo de quem contratou a pessoa certa, mas no dia a dia do trabalho a coisa não funciona como deveria. A pessoa que disse na entrevista ser proativa e na prática não é tanto, não tem a competência técnica que disse ter e nem é tão fã assim do trabalho em equipe como disse que era.
Histórias comuns como essa mostram como processos seletivos são traiçoeiros. Pesquisas científicas apontam que, se um processo seletivo for conduzido com as melhores técnicas e ferramentas – logo vamos discorrer um pouco mais sobre isso – a chance de sucesso (sucesso = ter a pessoa trabalhando na empresa após um ano) é de 60%. Algumas empresas têm como hábito contratar a pessoa que fica em segundo lugar no processo seletivo para testar a eficiência de seu método de contratação, e constatam que esses profissionais muitas vezes têm desempenhos excelentes, às vezes melhores do que de profissionais que passaram em primeiro lugar em outras vagas.
A aleatoriedade impera quando vamos trazer alguém para trabalhar conosco, e isso se torna ainda mais difícil em tempos de escassez de mão de obra, na qual é perceptível a dificuldade até para se ter candidatos. O que fazer então para navegar de forma correta por esses caminhos incertos?
Não contratamos mais profissionais que cederão parte da vida deles para trabalhar conosco, mas sim pessoas que viverão conosco diariamente, com todo seu jeito de ser e sua subjetividade. Antes tínhamos em nosso cotidiano alguém que iria executar uma série de tarefas conosco por determinado tempo, e depois iria embora viver a sua vida. Hoje temos alguém que nos entende como parte fundamental de seu cotidiano e que tem o seu jeito único de executar suas tarefas profissionais e se relacionar com os demais, que fazem dessa pessoa um profissional único, incopiável, diferente de qualquer outra pessoa que se traria para executar a mesma tarefa. Vida, trabalho, emprego, modo de fazer: tudo junto em um mesmo corpo.
Tudo isso mostra que nós não sabemos quem estamos contratando para trabalhar conosco. Acessamos no processo seletivo uma pequena camada superficial de conhecimentos técnicos e algumas preferências e vivências. No dia a dia, a prática pode mudar tudo. O que fazer então para furar o mínimo possível essa superfície e aprofundar um pouco mais?
Voltando no assunto dos processos seletivos que chegam a 60% de predição de sucesso, eles contemplam basicamente três fatores: entrevista semiestruturada, baseada em competências necessárias para execução de tarefas, teste de inteligência, que verifica a capacidade da pessoa de resolver problemas, e conversa com antigos empregadores. Dessa forma, pode se entender um pouco melhor quem é a pessoa que você está trazendo para viver com você.
Por fim, a dica de ouro é criar ambientes seguros, baseados em uma cultura sólida, nos quais a pessoa se sinta bem para ser quem ela é. Ambientes nos quais se observa o respeito, o crescimento conjunto e a valorização da diversidade são locais onde há uma amálgama coletiva única, na qual as pessoas que lá estão se sentem bem e possam alcançar bons níveis de produção.
Acreditem: estar em um ambiente onde você pode ser quem você realmente é, com seus desejos, virtudes e imperfeições, é um privilégio. Isso gera saúde, produtividade e vida. Dessa forma, podemos efetivamente saber com quem estamos trabalhando, e não somente arranhando uma fina camada superficial sobre quem vive conosco todos os dias.
*Psicólogo, mestre em administração, líder de Gente na Abrasel e CEO da Infinite.pro