Parece roteiro de filme ou novela, mas a pandemia impediu um talentoso musico venezuelano que estava em BH de retornar ao seu país. O drama de Hilvic Gonzalez iniciou-se quando ele chegou à capital mineira para a segunda fase do processo seletivo para integrar o corpo de músicos da nossa belíssima e renomada orquestra filarmônica.
Com retorno previsto para o dia 21 de março, foi impossibilitada sua repatriação, conforme comunicado dos voluntários da embaixada:
“Infelizmente, no momento não há previsão de vôos para repatriar cidadãos venezuelanos. A complexidade logística que supõe coordenar um vôo para todos os venezuelanos que se encontram em um país continental como o Brasil (temos recebido várias solicitudes), somado a impossibilidade de usar o espaço aéreo venezuelano (fechado pelo regime do Maduro) faz com que seja praticamente impossível repatriar os nossos cidadãos. Inclusive o traslado pela fronteira terrestre é complicado, pois o regime proíbe o trânsito entre estados na Venezuela, com o que a pessoa que não mora no estado Bolívar (fronteira com o Brasil) não tem possibilidade de chegar até outros estados. Aproveitamos a oportunidade para lhe explicar que esta representação diplomática não dispõe de recursos e que somos todos voluntários, sem salário, inclusive a embaixadora María Teresa Belandria. Por isto gostaríamos de agradecer todo o apoio que a Orquestra tem dado e possa seguir oferecendo ao senhor González neste momento tão complicado para todos”.
A seguir, um bate papo com o músico venezuelano, boa praça, que foi conquistado pela amabilidade e receptividade do mineiro.
O que mais sente falta do seu país? Tenho saudades da minha família, principalmente da minha mãe, dos meus amigos, dos meus colegas, das pessoas com quem partilho. Tenho saudades de fazer música com a orquestra onde toco atualmente na Venezuela, mas aqui tive a oportunidade de continuar em contato com a música e sou infinitamente grato por isso.
Como tem sido estes meses aqui em BH? Muito bom mesmo, agradeço muito a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais por tudo que tem feito por mim nesses meses que estou aqui. Gosto muito do país e do que estou aprendendo sobre sua cultura e aproveito para aprender uma nova língua, o português. Conheci colegas fantásticos e pessoas incríveis, e realmente, apesar da situação, estou muito feliz por estar aqui.
Quais seus planos quando conseguir regressar para seu país? Meu plano na área musical é continuar os estudos, me aperfeiçoar e poder continuar sendo um líder em uma grande orquestra. Adoro ser músico de orquestra, para mim é uma das melhores profissões do mundo porque embora seja uma grande responsabilidade, dá uma liberdade única para dedicar mais tempo à sua família, aos seus amigos e a realizar projetos paralelos.
Imaginou passar por tudo isto? Na verdade, não, mas acho que no fundo sempre quis ter tempo para mim, sem as pressões da rotina diária de trabalho para estar comigo mesmo, e mesmo estando todos no meio de uma pandemia, consegui cumprir este desejo. Tenho a certeza que ninguém esperava passar por esta difícil situação da COVID, mas apesar de tudo, agradeço a Deus pelas circunstâncias em que me encontro neste momento.
Uma mensagem final que gostaria de deixa? Vim aqui a BH em Março para tocar duas semanas com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, como parte final de uma prova para a vaga de timpanista principal. Tive a oportunidade de tocar apenas uma semana com eles devido ao COVID, mas fiquei encantado com a orquestra, uma orquestra muito profissional, multicultural, de alto nível individual e coletivo. Realmente espero que a Orquestra tenha ficado satisfeita com o meu trabalho e que eu possa voltar a Belo Horizonte em breve de uma forma mais definitiva.
E após algumas remarcações, o bilhete aéreo de retorno do Hilvic à Venezuela foi confirmado para 10 de Setembro. A conferir!