Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

A frase de Bismarck

Publicado em 26/03/2022 às 06:30.

“Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada.”

Sim ou não? Esta afirmação, com abrangência em âmbito global, perpassa a história aos dias atuais com uma singela ressalva para sua melhor aderência no Brasil: substituir a palavra caçada por pescaria. Concorda? A memorável frase é do estadista mais importante da Alemanha do século XIX, o Marechal de Ferro Otto Von Bismarck (1815-1898).

Vamos por partes. Eleições em todo o mundo democrático possuem algumas características similares. O aspecto emocional sobrepõe o racional. Conjunturas internas e externas são preponderantes. A situação econômica do momento pode ser decisiva. Lembremos da célebre frase do publicitário do então candidato às eleições presidenciais dos EUA em 1993, Bill Clinton. Enquanto alguns iam em outra direção, James Carville expôs o ponto fulcral para a estratégia do candidato democrata contra o republicano George Bush: “É a economia, estúpido”. E assim se deu a vitória de Bill Clinton.

As pesquisas qualitativas em um período eleitoral são da maior relevância. Saber o humor do eleitor, suas expectativas por Estados e regiões, perfil de quem mereceria seu voto etc. E é a partir daí que a antológica frase de Bismarck se apresenta. No pleito nacional deste ano, teremos soluções para todo o cardápio de principais problemas. Crescimento da economia como nunca antes, redução drástica do desemprego e da inflação, recursos infinitos para políticas sociais e de combate à desigualdade, eficiência e mãos firmes no combate à corrupção etc. Ah, e por suposto virão promessas da ampliação do metrô em Minas, com afirmações que “agora sai”! 

Importante assinalar que são todos estes temas da ordem do dia e de debate necessário e imprescindível, mas não são ideias milagrosas e de curto prazo, assim como vazias frase de efeito, que trarão soluções adequadas e sustentáveis. Fiquemos atentos ao dito por Bismarck antes de definirmos nosso voto, para não sermos vítimas de estelionato eleitoral.

Sobre mentiras da guerra, algo explícito desde sempre, incluindo os dias atuais. A história mostra que sempre ocorreu, mas com o advento das novas tecnologias digitais, informações com vídeos, fotos e depoimentos circulam rapidamente, contradizendo ditos de atores de destaque na respectiva guerra. Lembremos de 2003 da invasão do Iraque comandada pelos EUA que teve como uma das principais justificativas o perigo iminente de Saddam com suas armas químicas e outras de destruição em massa. Meses depois George Bush e Tony Blair reconheceram que naquele país não tinha nem armas químicas e nem de destruição em massa. 

E, na atual invasão da Ucrânia pela Rússia, as justificativas de tamanho ato agressivo e desumano são falaciosas, assim como as diárias falas de autoridades russas que civis estão sendo poupados, apesar de inúmeros relatos e imagens de crianças mortas, famílias destruídas, hospitais bombardeados.

E, por fim, as mentiras depois de caçadas ou pescarias. Bom seria se fossem apenas estas. Inocentes e divertidas quando analisando a conjuntura atual. Inofensivas neste mundo complexo, dinâmico, egoísta e devido ao sistema vigente e ao mecanismo preponderante, injusto, desigual, descompassivo e desumano.

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