O João criou uma comunidade virtual atacando os apreciadores da fruta do conde em crítica a um post da burguesa Josélia comendo a fruta em sua fazenda, que postou um textão em protesto ao lockdown em sua cidade citando o exemplo mal sucedido de um vilarejo do interior do Cazaquistão, que foi curtido pelo Manoel que bloqueou a Sílvia, que reclama de todos e criticou o Antônio, um vizinho comunista que batia panela na janela, que citou seu professor Mário que em um post disse ser a Venezuela um exemplo bem sucedido de governo popular, que foi curtido pelo Thomas, que antes vociferava o “não vai ter golpe”, que outro dia xingou o prefeito de sua cidade por desvios da saúde e que criou um abaixo assinado virtual em apoio ao STF pelas recém decisões em relação à lava jato, que foi assinado pela Cátia que excluiu o José de seus amigos porque não quis assinar, que postou acerca de um curso que dará de coaching em tratamentos preventivos da Covid, que foi criticado pela Maria que curtiu uma postagem do Sérgio que postou receita de bolo vegano e curtiu uma publicação do Artur em defesa da caça das baleias pelos japoneses, que manifestou com palmas a um post do Fernando, que vive na bolha das “páginas oficiais” que só defendem o governo, compartilha todas as suas postagens, chama a imprensa opositora de lixo e comenta que todos que não concordam com ele cem por cento são isentões, sobre um estudo de um pesquisador austro húngaro que manga com leite previne Covid, catapora e elimina urticária, que foi repostado pela Juliana e comentado pelo Leo, que foi de imediato comprar manga no sacolão do Seu Zezinho, que aumentou o preço da manga pra faturar mais e postou críticas aos oportunistas que aumentaram o preço do frete dos produtos, que foi curtido pela Tereza que aos 37 anos nunca quis buscar emprego, mora com os pais, recebe mesada e curtiu um post contrario às privatizações das estatais na página de colegas de colégio, que hackearam uma página de um grupo em apoio à volta dos militares ao poder organizado pela Márcia, que postou que está vendendo vitaminas que em um mês a pessoa perde 5 kl de massa gorda e ganha o mesmo de massa magra, sem precisar de exercícios e apenas com o poder da mente, que foi comentada pelo Henrique que queria duas caixas, e ainda marcou a Luíza que bloqueou o Maurício que postava a todo o momento informações e bastidores do big brother Brasil, que foi curtido pelo Breno que num grupo virtual postou um áudio de uma vidente que disse que o mundo acabará em 2027 e que neste o Cruzeiro ainda estará na série B...
Ufa! Desnecessário dizer os inúmeros benefícios das redes sociais, assim como do desenvolvimento tecnológico como um todo. A reflexão é de como está sendo utilizada. Em um âmbito geral, no aspecto negativo, têm de tudo, imposições doutrinárias e políticas, falta total de intolerância, sectarismos e maniqueísmos, receitas milagrosas de curas, notícias fake compartilhadas sem menor senso e um amontoado de desinformação.
Estaria certo Umberto Eco, quando disse em 2015 que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”, conforme frase que peguei emprestada do filósofo italiano para o título desta coluna? Disse ainda que eles antes falavam apenas “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”. Acrescentou que “normalmente, eles [OS IMBECIS]eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”. E enfatizou que “a TV já havia colocado o idiota da aldeia em um patamar no qual ele se sentia superior. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.
E, por fim, o João, do início deste artigo, que criticou a Josélia e criou vários perfis falsos e acompanha o trabalho de robôs, sabe que na hora do voto, a igualdade é simbolizada pelo um cidadão um voto, sem supremacia pelos que gritam mais nas redes sociais e que como robôs não votam, já está preparando material de fraudes no nosso sistema informatizado de eleições e pelo voto impresso como condição única da regularidade das eleições. A conferir!