Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Economia do comportamento no pós-Covid-19

29/05/2020 às 21:16.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:38

Para refletir: como se comportarão as pessoas com a abertura total do comércio, dos bares, restaurantes, museus, casas de shows e quando viagens nacionais e internacionais puderem ser feitas com um amplo cardápio de locais, hotéis e pousadas? Como se dará o processo de tomada de decisões das pessoas na compra de bens mais caros como carros e apartamentos? O que deverá ser observado pelos governos ao definirem políticas públicas, investimentos e prioridades, diante da grave crise fiscal e gravíssimos problemas sociais?

Todos os questionamentos acima se decididos sem análises e estudos da chamada economia do comportamento estarão fadados ao fracasso total. Em finais dos anos 1960 e início dos 1970 a economia do comportamento começou a produzir importantes contribuições teóricas e práticas e começou a ser conhecida mundialmente.

O termo “novo mundo”, já muito usado em artigos e entrevistas de autoridades públicas e privadas para qualificar o momento pós-pandemia, faz com que estudos da chamada economia do comportamento sejam mais que importantes, mas fundamentais e indispensáveis se pensarmos no sucesso das empresas e efetividade das políticas públicas pelos governos.

Uma grande contribuição é justamente a pesquisa do economista norte americano Richard Thaler, que recebeu o prêmio Nobel de Economia de 2017. O eixo do seu pensamento é que as pessoas não são sempre racionais nas suas escolhas, estando estas baseadas em questões subjetivas e culturais, podendo estes fatores pesarem até mais que a racionalidade. Em contraponto ao modelo econômico tradicional ou clássico, que dispõe que os seres humanos tomem decisões apenas com o fim de maximizar seu próprio bem-estar, usando toda a informação disponível e processando esta informação de forma objetiva e racional.

De certa forma, ele mostra que o processo de tomada de decisão não é tão simples como pensavam os economistas tradicionais. Outro ponto importante da pesquisa de Richard Thaler é o chamado nudge. Nome do seu clássico livro, este best-seller esteve presente no filme “A Grande Aposta”, sobre a crise das hipotecas nos Estados Unidos em 2008. O termo nudge, sem tradução exata para o português, pode ser compreendido como um empurrão ou um gatilho para influenciar a decisão de um consumidor. 

Em uma coluna que escreveu no jornal New York Times, Thaler explica o conceito: “Um problema importante na teoria econômica tradicional é que os economistas descartam qualquer fator que não influenciaria o pensamento de uma pessoa racional. Mas, infelizmente para a teoria, muitos fatores considerados irrelevantes importam”. Os agentes econômicos, os economistas, os empresários e os governos erram quando sobrepõem o racional a aspectos da psicologia e da neurociência no processo de tomada de decisões das pessoas. 

Os desafios para os governos serão enormes. Desemprego nas alturas, demandas sociais de grandes dimensões e agravamento no já deteriorado quadro fiscal. Nos últimos anos, mesmo lentamente, já pode ser observado que a economia do comportamento tem sido um instrumento para desenhar políticas públicas que se adaptem ao comportamento e à tomada de decisões dos cidadãos.

Mais que uma constatação dos gestores públicos, é uma reação à falta de efetividade das políticas públicas baseadas no modelo econômico tradicional. 

Bons exemplos são observados por documentos e relatórios de agências multilaterais, como o BID e o Banco Mundial, que criaram grupos de trabalho específicos para sistematizar experiências de governos que utilizaram a economia do comportamento para garantir eficiência aos projetos e políticas públicas.

Fiquemos atentos a tudo isto!!

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