Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Eleições 2022: carta aos pré-candidatos

Publicado em 23/04/2022 às 06:30.

Prezados e prezadas,

Em primeiro lugar, parabéns pela postulação. Nobre colocar o nome à disposição dos cidadãos para representá-los, seja para o Parlamento ou para o Poder Executivo. O voto nada mais é que uma procuração que damos a alguém para, em nosso nome, tomar decisões que afetam nossas vidas e das próximas gerações.

Em segundo, um ato de coragem.

Teremos uma eleição com a preponderância das redes sociais, com as fake news compartilhadas sem nenhum pudor, denegrindo pessoas e expondo e deturpando fatos, discursos e a vida dos candidatos. Soma-se a isso um ambiente de polarização absurdo, obtuso e nefasto, em que o debate de ideias fica relegado e sobreposto a outras questões, como o ataque a pessoas.

Sempre tenham em mente a gravíssima situação do país que vocês terão que enfrentar e apresentar soluções factíveis.

A realidade atesta terríveis consequências desnudadas pela pandemia do Covid-19, como os sérios e complexos problemas sociais, desemprego, uma brutal desigualdade que mancha o país, preços nas alturas, níveis educacionais vergonhosos, combate à corrupção fragilizado, infraestrutura precária, um estado pesado, burocrático e ineficiente e uma alta carga tributária com insuficiente retorno para a população, para citar apenas alguns exemplos.

E, talvez o mais grave, até as palmeiras da praça da liberdade em BH sabem da falta de esperança da esmagadora maioria da população nos senhores e nas senhoras, o que compromete a avaliação da democracia como ferramenta para a melhoria de vida de todos, aprofunda a crise de representação política, a confiança nas instituições, a ineficiência das políticas públicas e a consequente qualidade de vida de todos.

Este um processo estrutural que vem se deteriorando em um passado recente no nosso país, e que precisamos revertê-lo para um ciclo virtuoso de crescimento sustentável. 

Foquem na enorme responsabilidade de vocês. Não há mais espaço para conversa fiada, promessas em vão, o mesmo do mesmo.

O que o país mais precisa neste momento é equilíbrio e bom senso.

Um ponto basilar: democracia pressupõe convívio com os que pensam diferente, e não imposição ou demonização dos que têm ideias ou concepções diferentes.

Política é a arte do consenso, da harmonia entre os Poderes, em que o interesse público e o bem comum são as razões de suas existências.

Não enxerguem o poder como o fim. Vocês o buscam, isso é legitimo, mas deve ser encarado como um meio para implementar suas concepções programáticas e avançar em políticas e ações para melhorar a qualidade de vida da população.

Outra reflexão, a meu juízo: abominável, falacioso, estarrecedor e obtuso a insistência em enquadrar a eleição no “nós contra eles”. O seu partido ou seu grupo político, independente qual seja, não tem o monopólio da bondade, da verdade, da ética, enquanto o outro lado personifica o mal, a corrupção e a incompetência administrativa.

Não há um lado exclusivo do bem comum, da transparência, da correção, da eficiência, da defesa do interesse público.

Onde tem a presença humana há posturas aceitáveis e outras nem um pouco. Assim sendo, indiferente se partidos políticos, associações, empresas ou entidades da sociedade civil, encontramos em todas as organizações pessoas do bem e outras abomináveis e com atitudes repreensivas, egoístas, personalistas e até criminosas. Isso é óbvio e elementar em se tratando da natureza humana. 

Por fim, que tenhamos um processo eleitoral em conformidade com os ditames do Estado Democrático de Direito. Na certeza que os resultados das urnas serão respeitados e que, caso você logre êxito, juntamente com os demais mandatários, iniciem 2023 com o necessário equilíbrio e bom senso almejados e com a nobre missão de contribuir para um estado e um país harmônico, mais justo e menos desigual.

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