Como dito em outra coluna, as eleições municipais deste ano terão como mote de forma mais explícita a forte polarização entre Lula X Bolsonaro, principalmente nas grandes cidades.
O pleito de 2024 é encarado como uma prévia da grande disputa presidencial de 2026. Em destaque para o triângulo das bermudas, SP, RJ e BH. A obsessão e o foco eleitoral primário de Lula é ganhar na capital paulista, com seus pouco mais de 12 milhões de habitantes. Será algo emblemático ostentar o troféu da vitória na capital do estado governado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas.
Assim sendo, cumprirá o compromisso de apoio a Guilherme Boulos do Psol, Coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e o candidato mais votado a deputado federal por São Paulo, com 1.001.472 votos. Com a negociação para o PT indicar a vice, praticamente definido que será Marta Suplicy, ex-prefeita da cidade de 2000-2004.
Cabe citar que Marta regressará ao PT, partido do qual se desfiliou em 2015 e que acusou de ser “protagonista de um dos maiores escândalos de corrupção” do país, com referências indiretas ao mensalão e ao petrolão. Em 2016, como senadora, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff.
E outro ponto emblemático de a quantas anda a política brasileira: até outro dia ocupava a secretaria de relações internacionais do atual prefeito Ricardo Nunes, que será candidato à reeleição e enfrentará Boulos em outubro. Algo rocambolesco.
Em BH ainda pairam indefinições e as peças do tabuleiro aguardam articulações finais de SP e do RJ. Não obstante o deputado Rogério Correia ter lançado sua candidatura pelo PT, uma leitura mais factível é que também por aqui o PT não encabece a chapa. Um cenário mais viável é apoiar a reeleição do prefeito Fuad Noman, do PSD, que era vice de Kalil e após a renúncia deste para se candidatar ao governo do Estado em 2022 assumiu a titularidade do Executivo na cidade. Fuad inclusive esteve no evento “Democracia Inabalada”, no último dia 8, em Brasília, por articulação do ministro Alexandre Silveira.
Caso essa aliança se concretize, caberá a Fuad em breve implementar uma profunda reforma em sua administração, excluindo quadros não alinhados ao seu projeto eleitoral de 24, principalmente os indicados pelo secretário da Casa Civil do governo Zema, Marcelo Aro. E por suposto incorporar de forma robusta e explícita ao seu governo o PT, seu próprio partido PSD e setores da esquerda, reestruturando também sua moribunda base na Câmara Municipal.
Mesmo não sendo conhecido pela maioria do eleitorado pelo seu perfil mais introspecto, Fuad tem a máquina na mão e pode se fortalecer, ainda mais com a pró atividade do PT e com Lula no comando das ações.
Posto isso, teremos semanas de definições estratégicas dos dois lados nas três capitais mais estratégicas do país. Em SP deveremos ter a disputa de Boulos, de Lula, com Ricardo Nunes, de Bolsonaro; no RJ, Eduardo Paes, de Lula, com Eduardo Ramagem, de Bolsonaro.
E em BH possivelmente Fuad com apoio de Lula contra o candidato de Bolsonaro, que está bem indefinido, mas com possibilidades fortes, na ordem: senador Cleitinho, senador Carlos Viana ou o deputado estadual Bruno Engler.