Um mundo globalizado com um brutal e crescente desenvolvimento tecnológico. Potências internacionais ávidas em estabelecer parcerias com objetos distintos e com ganhos bilaterais. Ingredientes estes que, aliados à condição de ser Minas Gerais um estado de dimensão nacional, com suas ricas idiossincrasias e considerado síntese do Brasil, nos posicionam com excelentes perspectivas de parcerias e inserções internacionais.
Neste diapasão, uma breve entrevista com o diplomata de carreira e Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional do governo de Minas, Juliano Alves Pinto.
Quais os principais desafios no âmbito das relações internacionais para o estado no período pós-pandemia:
“Precisamos aproveitar esse momento de reconfiguração que o mundo atravessa para criar uma nova narrativa e um novo empacotamento em relação à forma como Minas Gerais se apresenta no exterior. O turismo é uma atividade que será retomada a todo vapor, já que não há como reproduzir virtualmente a experiência que o turismo proporciona. Interessante observar que a maioria dos turistas oriundos das duas maiores economias do planeta, China e EUA, não está interessada em destinos de praia. O chinês tem aversão a sol e gosta de consumir cultura e conhecimento. Já o norteamericano, acostumado com o Havaí e com o Caribe, vê no Brasil um grande destino de belezas naturais que eles normalmente não encontram lá. Minas nesse aspecto é um estado privilegiado por concentrar cultura e natureza em abundância”.
Como a disputa entre Estados Unidos e China reflete no Brasil e especificamente em Minas Gerais?
“O Brasil, por ser um dos cinco grandes países do mundo, não pode abdicar do universalismo e do ecumenismo em suas relações internacionais. Mesmo sendo um país de cultura ocidental, não há por que preferir este ou aquele. Em geral, as nações se orientam de acordo com seus respectivos interesses e essa deve ser a forma como o Brasil deve se posicionar: de forma pragmática, altiva e equilibrada. A disputa entre EUA e China deve ser observada sob a ótica das oportunidades que ela representa. É mais seguro aos EUA concentrar seus investimentos produtivos na América Latina e, por sua vez, no Brasil. Já a China precisa desenvolver sua indústria criativa, se deseja de fato ser um ator mundialmente relevante. Essa criatividade pode ser encontrada no Brasil, o que cria imensas oportunidades no campo da economia da cultura e do entretenimento. Sendo um estado que concentra talento, que constituiu uma sólida base industrial, ostenta bons índices de segurança pública e que tem um Governo comprometido com a melhora do ambiente de negócios, Minas Gerais sai na frente. É um estado muito competitivo em todos os sentidos. Mas ainda falta aprimorar essa narrativa e esse empacotamento para uma promoção mais proativa das nossas múltiplas qualidades”.
Nessa linha, quais projetos o Governo de Minas Gerais já estaria lançando mão para uma melhor promoção do nosso estado?
“Em primeiro lugar, requalificamos a maneira de olhar para a agenda da sustentabilidade e das mudanças climáticas sob a ótica do desenvolvimento econômico. Fomos o primeiro estado da América Latina a aderir à campanha "Race to Zero", com o compromisso de zerar as emissões de carbono até 2050. Só isso já vem conferindo uma atenção gigantesca da comunidade internacional sobre Minas Gerais, já que é a principal iniciativa que está sendo liderada no âmbito da COP-26, que acontecerá em Glasgow em novembro.
Por outro lado, estamos mapeando oportunidades nas quais o estado poderia se apresentar de forma mais qualificada internacionalmente. Além da própria COP-26, estamos estudando participar da Exposição Universal de Dubai também em novembro, com o objetivo de atrair investimentos tanto em infraestrutura quanto em projetos "greenfield". Nesse sentido, a parceria com a FIEMG tornou-se fundamental. Diplomacia não pode ser produto da ação isolada dos Governos. É preciso resgatar a autoestima do povo mineiro e projetá-la mundo afora de forma pragmática e consciente. Isso vale para o Brasil como um todo, mas pode perfeitamente começar por aqui”.