Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político
Fábio Caldeira

Pobreza crescente. Terreno fértil para o perigoso populismo

Fábio Caldeira
25/06/2022 às 06:00.
Atualizado em 25/06/2022 às 11:47

Pobres países pobres mundo afora mais vulneráveis aos discursos eleitorais explicitamente populistas, sempre sombrios e tenebrosos quanto a suas consequências.

Não vou aprofundar nem adentrar em definições e distinções acadêmicas acerca do significado do termo populismo. Em linhas gerais, pode ser oriundo da direita ou da esquerda, exercido por lideranças carismáticas que focam a divisão do respectivo país entre elites e o povo, e por suposto ele se apresenta como legítimo e único defensor dos mais necessitados.

Seus discursos e propostas focam nos mais pobres, o que por suposto seria positivo se não fossem na maioria das vezes engodos e irresponsáveis no aspecto fiscal, sem o menor monitoramento da política pública sugerida, e seguramente não almejam dar protagonismo às pessoas em suas vidas.

Nestes termos, não visam acabar com a pobreza, mas tornar as pessoas dependentes do estado, enxergando-as não como cidadãos e cidadãs, destinatários de eficientes políticas públicas implementadas com os tributos pagos por todos, mas apenas como eleitores, visando unicamente a mera conquista ou manutenção do poder. No pós eleição, constatam-se verdadeiros e cristalinos estelionatos eleitorais.

O mundo como um todo vive uma grave crise econômica, potencializada pelos dois terríveis acontecimentos, a pandemia da Covid e a guerra na Ucrânia. A economia global caminha para a recessão sem previsão de melhora de curto a médio prazo. Infelizmente, deve ser dito, ainda não chegamos no fundo do poço.

Na esmagadora maioria dos casos, os respectivos governantes máximos, sejam presidentes ou chefes de governo, estão com popularidade baixa, conforme pesquisas divulgadas. O aspecto econômico, por suposto, pesa sobremaneira no dia a dia das pessoas. Combustível e energia elétrica que são fatores importantes na cadeia dos preços, não param de subir. Consequentemente, alimentos e outros produtos e serviços se tornam cada vez mais inacessíveis para boa parte da população. 

Assim sendo, a soma de crise econômica e governantes mal avaliados desenha um cenário fértil para os populistas, com suas propostas tentadoras e miraculosas que vão resolver todos os problemas como uma varinha mágica. A vida, segundo eles, se transformará da noite para o dia, como uma propaganda de margarina, em um mundo só de alegria. 
Basta votarem neles!

Eleições recentes, principalmente na América Latina, têm demonstrado resultados de alternância de poder, com eleições de candidatos e grupos de oposição, devido à fragilidade eleitoral dos então governantes, com destaque pela crise econômica, conforme dito acima.

Importante ressaltar que a má avaliação dos governantes pode não se dar apenas por fatores externos. Fiquemos atentos para as constantes terceirizações dos problemas. Muitas das vezes podem ser observadas ações governamentais equivocadas e ineficazes, incompetência gerencial e administrativa, equipes despreparadas e foco equivocado dos reais problemas da população, talvez com intuito de desviar atenção das agruras diárias da população.

A alternância de poder em si não é negativa, pelo contrário, pois um país democrático tem como premissa a possibilidade de mudanças na titularidade do poder por grupos ideológicos diferentes, conforme a soberana vontade popular. O problema se dá nas condições da vitória, se foi construída em bases de questões programáticas reais e não desconsiderando e escondendo o deserto a ser percorrido, ou se foi tendo como base medidas populistas, irresponsáveis e deslocadas da realidade política, econômica, conjuntural e fiscal.

Sendo a segunda hipótese colocada, criam-se sérias dificuldades de governabilidade, instabilidade política e possibilidade de agravamento do caos social, ingredientes de uma tempestade perfeita com futuros incertos para qualquer país mundo afora, incluindo o Brasil, com seus 33 milhões de pessoas passando fome.

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