“Verdade seja dita: a verdade raramente é dita”. Quase sempre, senão na totalidade, respondemos de forma mecânica que estamos bem, tudo ótimo ou algo similar. Não importa se esta pergunta foi feita pessoalmente, por telefone ou pelas redes socais, nossa resposta é automática. 

Faz parte da cordialidade e do trato respeitoso com outra pessoa a pergunta introdutória e simbólica do “como vai?”, sem qualquer intenção ou motivação de troca de informação além do “tudo bem”, mesmo que sua linguagem corporal sinalize que não é bem assim. Entretanto, por suposto, ficaremos surpresos e até entediados se, ao perguntarmos para alguém como está e a pessoa responder que não e externar o porquê em detalhes, falando de problemas em casa, no trabalho, de suas finanças, do vizinho, do seu time que ficará de novo na segunda divisão etc.

Na verdade, e de forma lamentável, todos estamos numa correria louca, preocupações mil e, muitas das vezes, de forma egoísta e introspecta, em nosso mundo com nossos problemas e “dane-se” o que se passa em volta. Não queremos ser incomodados com problemas alheios, pois “já bastam os nossos” e, da nossa parte, não queremos transmitir a algum interlocutor o que passamos, para não demonstrarmos fraqueza ou simplesmente por ter certeza que a pessoa só perguntou por educação.

“Verdade seja dita: a verdade raramente é dita”. Esta frase é parte da bela música Truth Be Told (Verdade seja dita), cuja versão traduzida inicia assim: “Mentira número um, você deveria ter tudo certo. E, quando perguntam como você está, apenas sorria e diga a eles nunca melhor. Mentira número dois, a vida de todos é perfeita, exceto a sua. Portanto, mantenha suas bagunças e suas feridas, e seus segredos seguros com você a portas fechadas. Mas que a verdade seja dita, a verdade raramente é dita. Eu digo, estou bem, sim, eu estou bem, oh, estou bem, ei, eu estou bem. Mas eu não estou, estou quebrado. E, quando está fora de controle, eu digo que está sob controle. Mas não está, e você sabe disso. Eu não sei por que é tão difícil admitir...”.

A questão é que todos temos problemas, passamos por perrengues. Enfatizemos os ensinamentos de Jesus em João 16:33: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo”. Sendo mais explícito, pela Wikipedia, “aflição é um sentimento de agonia, sofrimento intenso, preocupação ou desassossego por alguma causa ou coisa em que vá afetar a vida direta ou indiretamente”.

Importante encontrarmos um meio termo, nem escondermos na nossa bolha e forçarmos para passar a imagem que nossa vida se assemelha a um comercial de margarina, e nem expormos demasiadamente nossos problemas de forma exaustiva e negativa, principalmente quando o interlocutor não ter a menor empatia para conosco. 

Por outro lado, ninguém aguenta e gosta de conviver com os prolixos e chatos pós graduados em reclamar, tipo que sempre encontram problemas em cada solução. O humor de Millôr Fernandes suaviza o tema ao dispor que “chato é aquele que explica tudo tim-tim por tim-tim... e depois ainda entra em detalhes.” Outro tipo canseira são os que se vitimizam diariamente sobre os percalços nas respectivas vidas e insistem em terceirizar seus problemas e causas de suas aflições.

Dois pontos finais, não obstante o acima. Importante estarmos abertos para levar uma palavra amiga e de conforto quando ao perguntarmos a alguém: como vai? E ela responder não, mais ou menos, ou simplesmente sua expressão física responder por si.

E, como não vivemos em ilhas isoladas, cerquemos de pessoas do bem, compassivas e empáticas, tendo como norte Salmos 37:5: “Entregue o seu caminho ao Senhor; confie Nele, e Ele agirá.”