Sob a sombra das palmeiras da Praça da Liberdade, em BH, duas figuras históricas brasileiras se encontram para discutir o Brasil atual. De um lado, o baiano Rui Barbosa, o Águia de Haia, destacado orador, referência exemplar de jurista, e do outro, o mineiro Juscelino Kubitschek, ex-governador de Minas e indelével presidente visionário dos “cinquenta anos em cinco”. O aspecto temporal de suas existências terrena os separa, mas suas concepções éticas, republicanas e o amor pelo Brasil os une.
Rui Barbosa: Meu caro “Presidente Bossa Nova”, confesso-lhe uma angústia que me oprime o peito. Os jornais e os livros digitais desta era — curiosos instrumentos! — revelam um país ainda preso aos grilhões da desigualdade, da corrupção e do atraso institucional. Não é esta a República que sonhamos fundar e a que dedicamos nosso tempo e labor.
Juscelino Kubitschek: Rui, compreendo a sua inquietude. Tive o privilégio de ser prefeito de BH, governador da querida Minas Gerais e presidir nosso amado país, de governar com esperança e otimismo, construindo Brasília como símbolo do futuro. Contudo, passado tanto tempo, vejo que, em 2025, nosso Brasil avançou pouco em infraestrutura e há regiões em atraso na tecnologia. Assusta como regrediu em espírito público, cívico e no desenvolvimento do nosso povo. Temos problemas gravíssimos em itens básicos como saúde, educação e segurança.
Rui Barbosa: Assusta-me a vulgarização da mentira e a desvalorização do saber. Em minha época, já advertia que “de tanto ver triunfar as nulidades”, o povo poderia perder a fé na virtude. E o que vejo agora? O conhecimento é contestado por opiniões rasas; a verdade sufocada por frágeis narrativas, na maioria das vezes pelo uso errôneo das redes sociais, fruto do brutal desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, o que diminui a nobre atividade da política.
JK: Sim, Rui. Há um certo desencanto com a política. A polarização tornou-se um vírus mais nocivo que os biológicos. O país parece dividido, não em ideias, mas em trincheiras ideológicas. E o bem comum... esse ficou esquecido entre discursos sectários e vazios.
Rui Barbosa: A democracia não pode sobreviver sem civilidade e sem educação. E noto que o investimento na instrução ainda não é prioridade e sem a mínima efetividade. A escola deveria ser o templo da República. Mas muitos alunos ainda carecem do básico. Como sonhar com um Brasil justo se não alfabetizamos os sonhos e não há educação cidadã?
JK: Quando idealizei o Plano de Metas, pensei no desenvolvimento como motor do progresso. E veja: hoje temos um país bem desigual. Temos destaque em setores da economia, mas o fosso social continua largo. A modernidade chegou para alguns, mas a miséria ainda habita as periferias. Basta ver o crescente número de moradores de rua nas grandes cidades.
Rui Barbosa: O progresso técnico, sem progresso moral, é ruína adiada. É preciso resgatar a ética da coisa pública, o zelo pela Constituição, o respeito pela dignidade humana. A República deve ser sustentada por homens públicos e não por interesses privados. É fundamental termos os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário atuando de forma harmônica e independente, e o mais importante, em total respeito à Constituição e demais leis.
JK: Concordo. Mas mantenho a esperança. Vejo jovens nas ruas, nos escritórios, nas universidades, questionando, inovando, lutando. Talvez a semente de um Brasil melhor esteja neles. Nosso papel, Rui, é lembrar que o futuro se faz com coragem, mas também com justiça e memória.
Rui Barbosa: Que assim seja, Juscelino. “Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado!”. Que a chama da liberdade e da responsabilidade pública continue a arder no coração dos brasileiros. Pois uma nação só é grande quando todos os seus filhos têm dignidade.
Por fim, neste diálogo entre passado e presente, duas figuras que marcaram a história brasileira refletem os desafios de 2025 com lucidez e esperança. A mensagem disposta é clara: para que o Brasil alcance sua verdadeira grandeza, é preciso aliar progresso material com maturidade democrática, justiça social, ética e educação cidadã.