Somada ao primor na excelência das pesquisas e dos quadros técnicos da nossa UFMG, a absoluta necessidade de uma vacina contra a Covid 100% nacional, evitando qualquer dependência quanto ao “humor” internacional e demandas globais de insumos para a sua produção. Neste diapasão, a competente e dedicada reitora da UFMG, Profa. Sandra Regina Goulart Almeida, esclarece alguns relevantes pontos nesta breve entrevista.
Quais os parceiros da UFMG e qual estágio atual de testes está a vacina?
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolve sete projetos de imunizantes contra a covid-19 e um deles, batizado provisoriamente de Spintec, está em processo mais avançado de desenvolvimento.
Essa vacina está sendo desenvolvida pelo Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG (CT Vacinas/UFMG), com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O CT-Vacinas é um centro de pesquisas em biotecnologia, resultado de uma importante parceria estabelecida entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Instituto René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Minas) e o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).
Com relação a essa vacina, a etapa denominada prova de conceito, que consiste na realização de testes em laboratório e em animais (camundongos), já foi concluída e os resultados demonstraram que o imunizante tem potencial para produzir resposta imune e proteção. Para confirmar a eficiência da vacina, sua capacidade de geração de anticorpos nas células de defesa no combate ao Sars-Cov-2 e se ela provoca algum efeito colateral, iniciamos, agora em abril, os testes em primatas (macacos).
Esses procedimentos para a testagem devem durar cerca de 60 dias e os resultados demonstrarão a qualidade e a eficiência da vacina, imprescindíveis para o passo seguinte que é a produção de lote piloto das vacinas para ser aplicado nas pessoas e a realização das fases I e II dos testes clínicos em humanos. A expectativa é que esses testes se iniciem ainda este ano. Já a fase III, que consiste na testagem em massa, envolvendo cerca de 40 mil voluntários, deve ser iniciada no início de 2022.
Sobre as mutações do vírus, a vacina tem eficácia? Será em duas doses?
Sim, inicialmente esta vacina será aplicada em duas doses e estão sendo feitos testes para que ela possa ser usada em doses de reforço, caso se conclua, de fato, que precisaremos nos vacinar todos os anos, como alguns cientistas têm ponderado. Essa vacina, por fazer parte de uma segunda geração de vacinas, está sendo testada especificamente com relação à eficácia diante das variantes já identificadas em território brasileiro.
A plataforma tecnológica usada na produção dessa vacina consiste na combinação de diferentes proteínas para formar uma única, artificial. Esse composto de proteínas combinadas, também chamado de “quimera”, é injetado no organismo em duas doses e induz à resposta imune. Por não usar exclusivamente a proteína S, na qual se dá a maioria das mutações, a tendência dessa vacina no combate às novas variantes é bastante elevada.
Após a aprovação final da Anvisa, qual a capacidade de produção? Atenderá todo o estado anualmente, caso necessário?
Deve-se ressaltar que a UFMG desenvolve a vacina, que terá 100% de tecnologia nacional, mas não a produz em escala industrial. Essa produção deverá ficar a cargo da Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas Gerais. Por ter um método de produção mais simples e rápido e ser de baixo custo, essa vacina pode ser produzida na Funed, que tem a capacidade instalada para fazê-lo.
A Funed já produz a vacina de meningite, que é adquirida pelo Ministério da Saúde e distribuída para todo o território nacional. A UFMG e a Funed já estão em contato e devem assinar um contrato de confidencialidade. Esperamos que essa vacina possa ser produzida aqui em Minas Gerais, de forma sistemática, e distribuída para todo o país. Dependendo da escala de produção, ela poderia até mesmo ser exportada para a América do Sul, pois temos conhecimento e tecnologia desenvolvida e instalada para tanto.
É imprescindível investir em uma produção nacional de vacinas contra a covid-19. É uma questão de soberania nacional, pois, como temos visto, não podemos ficar dependente de importações de vacinas e de insumos farmacêuticos. Nossa expectativa é a de que Minas Gerais possa ser protagonista na produção de vacinas contra a covid-19 para o enfrentamento desta pandemia de graves impactos sanitários, econômicos e sociais, e que também estejamos preparados para enfrentar outras situações sanitárias que irão certamente demandar o desenvolvimento de mais vacinas. Lembrando o mineiro Guimarães Rosa, ex-aluno da UFMG, “sendo a hora, Minas entende, atende, toma tento, avança, peleja e faz”. Esta é a hora.