Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Você confia nas pessoas?

Publicado em 21/01/2022 às 15:36.Atualizado em 30/01/2022 às 19:58.

A esmagadora maioria dos latino-americanos, em especial os brasileiros, não confia em outras pessoas e nem em instituições públicas. Para os mais distraídos, este fato é simplório e insignificante em suas vidas. Mas não é bem assim. Traz consequências desastrosas para esta e para as próximas gerações.

Vale muito a leitura e reflexões de um livro editado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) intitulado “Confiança: a chave para a coesão social e crescimento na América Latina e Caribe”. Segundo o mesmo, “confiança é a crença de que os outros não agirão de forma oportunista. Eles não farão promessas que não podem cumprir, descumprir promessas que podem cumprir ou quebrar as regras para tirar vantagem de outros que as cumprem. Simplificando: a confiança é a fé nos outros, em sua honestidade, confiabilidade e boa vontade. Pessoas de confiança fazem promessas que podem cumprir, cumpri-las e não quebram as normas sociais”.

Neste nosso mundo complexo e desigual, a confiança interpessoal em âmbito global vem reduzindo de um tempo pra cá. Conforme disposto no informe, no período de 1981-85 era de 38%, reduzindo para 26% entre 2016-20. Na América Latina e no Caribe a redução foi ainda maior. Nos mesmos períodos foi de 22% para 11%, ou seja, apenas uma em cada dez pessoas atesta confiar em outras pessoas.

E a relação entre confiança e desenvolvimento econômico é cada vez mais evidente. Quanto maior a confiança interpessoal e nas instituições públicas, mais condições o país apresenta para melhorar a qualidade de vida dos povos, com ganhos de sobremaneira relevância para a atual e para as próximas gerações.

Conforme o documento do BID, “pessoas que confiam umas nas outras se unem para construir sociedades prósperas. As pessoas que acreditam que os outros não agirão de forma oportunista experimentam um senso de coesão que lhes permite trabalhar em direção a um objetivo comum. Em sociedades onde a confiança é baixa, essa coesão não é observada. A coesão social é um conceito difuso que inclui noções de compromisso ou apego à sociedade ou ao país e seus membros”.

O livro, dividido em dez relevantes capítulos, dispõe de análises acerca das causas do baixo índice de confiança na região, suas consequências negativas e possibilidades de melhora, a saber: Confiança, coesão social e crescimento na América Latina e Caribe; Medidas determinantes para a confiança; Confiança e economia; Confiança, civilidade e construção de boas políticas públicas; Confiança e eficácia das políticas públicas; A relação entre confiança e transformação digital; Instituições: alívio para desconfiança; A organização, a cidadania e o contrato social; O poder da informação e Navegando em um mar de desconfiança.

A melhora dos níveis de confiança em um país não se dá da noite para o dia. É um labor geracional e com papeis de extrema relevância pelos governos e demais mandatários do poder, pelas famílias e escolas. Cada indivíduo deve conduzir sua vida diária contribuindo para gerar bolsões de confiança ao seu entorno, seja junto aos vizinhos, familiares ou no respectivo ambiente social e profissional.

Caso contrário, não há como imaginar um país ou um mundo mais fraterno, compassivo, coeso e menos desigual.

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