A exigência pouco falada da política

16/05/2022 às 06:00.
Atualizado em 16/05/2022 às 10:51

Muito se fala sobre a necessidade de os políticos serem bons comunicadores. Saberem apresentar suas ideias, explicar à população seus projetos, convencer os colegas.

Muito se fala sobre a necessidade de serem bons ouvintes, estarem perto do povo e escutarem suas demandas, críticas, sugestões e insatisfações.

Recentemente, começou a se falar sobre a necessidade de serem técnicos. Terem conhecimento sobre as áreas em que legislam, os efeitos das normas que aprovam.

Pessoalmente, acrescento a necessidade de terem desprendimento e coragem. Não se apegarem ao cargo, serem capazes de falar verdades duras e impopulares, resistir a pressões de sindicatos, lobbies, e à pressão dos colegas nos esquemas de compadrio de “me apoia que te apoio” que deixam à margem o interesse da coletividade.

Pouco se fala sobre resiliência, a capacidade de absorver derrotas e seguir lutando, sem desistir nunca. Em três anos e pouco de política, posso dizer que sem resiliência é impossível produzir resultado, especialmente se a atuação for no sentido contrário dos lobbies e do compadrio. Aprender isso foi uma dura lição.

As maiores realizações de meu mandato até aqui, mesmo sendo coisas que dependiam unicamente de articulações com o Executivo governado pelo meu próprio partido, levaram tempo e exigiram resiliência. A quebra do monopólio das empresas de ônibus (permitir que apps como o Buser funcionem) levou dois anos. A quebra do monopólio do Detran na vistoria veicular levou três anos para ser acatada e ainda está em implementação.

Ter entendido a importância da resiliência me preparou para o maior desafio que tenho enfrentado neste mês de maio: barrar tentativa de aumento de imposto sobre o produtor de leite mineiro que vende sua produção para outro estado, apresentada como forma de estimular os laticínios mineiros (muito injusta, pois joga a conta para o produtor pagar). Da primeira vez que tentei barrar a proposta, fui derrotado por 4 a 1. Na segunda, a derrota foi por 43 a 6. Não desistimos, fomos até os produtores e, contando com a ajuda de voluntários, conseguimos criar uma mobilização tão grande que permitiu barrar o projeto em segundo turno de comissão.

Quando fui eleito, cheguei cheio de ideais e com a ilusão de que mudaria o mundo como em um passe de mágica. Aos que disputarão as eleições pela primeira vez, deixo meu conselho: ajustem suas expectativas, aprendam a perder e, mesmo com a derrota, seguir lutando.

E a todos os eleitores, deixo meu pedido: acompanhem de perto o trabalho dos políticos. Tem hora que, mesmo com resiliência, o político cheio de ideias, sonhos e boas intenções não consegue mudar as coisas sozinho. Tem hora que só a pressão popular resolve.

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